segunda-feira, 3 de outubro de 2016

DAR E TOMAR NAS RELAÇÕES


     Uma das Ordens do Amor que Bert Hellinger observou nos sistemas é o Dar e Tomar nas relações. Todas as relações começam com este movimento. Esta Ordem é mais sutil e muitas vezes confundem-se com conceitos religiosos ou outros paradigmas da nossa sociedade, principalmente no que se refere ao termo Tomar.

     Usamos Tomar ao invés de Receber, pelo fato de que para se Tomar algo ou alguém há a necessidade de ação da pessoa que deseja tomar, de “ir em direção a”. Por exemplo, Tomar a Mãe: vemos numa constelação que o filho tomou sua Mãe quando este se movimenta em direção à ela. Portanto aquele que Dá estende os braços e oferta algo, mas o outro precisa do movimento de “ir em direção a” este algo, ou seja, Tomar. E é aí que muitas vezes ocorre o emaranhado sistêmico, pela ausência deste movimento de Tomar.

     A Ordem Dar e Tomar, ou Equilíbrio, como algumas pessoas denominam, respeita a Hierarquia por Tempo, ou seja, aquele que entrou primeiro no sistema Dá para quem entrou depois. O que entrou por último Toma daqueles que vieram antes. Portanto o pai dá para o filho, que dá para o filho; assim como o irmão mais velho dá para o que chegou depois e assim por diante. Este Dar não diz respeito apenas a coisas materiais e sim a tudo: a Vida, cuidados, valores, bens materiais, impressões, crenças (conscientes ou não), etc.

     Com a dinâmica do Dar e Tomar surge um sentimento que Bert Hellinger chama de Culpa e Inocência. Estes sentimentos atuam em conjunto com as três Ordens do Amor (Pertencimento, Dar e Tomar e Hierarquia). Para entender este conceito é importante eliminar o que foi aprendido a respeito destas duas palavras para não haver confusão. Dentro da Ordem Dar e Tomar, a Culpa é experimentada como obrigação, e Inocência como liberdade ou reivindicação.

     Bert Hellinger diz que “quem dá tem o direito de reivindicar e quem toma se sente obrigado. A reivindicação de um lado e a obrigação de outro constituem para toda relação o modelo básico de culpa e inocência. Aqueles que dão e aqueles que tomam não descansam até que se chegue a um equilíbrio. Isto significa que aquele que toma tem que ter a chance de dar e aquele que dá tem igualmente a obrigação de tomar”.

     Portanto, quando Tomamos algo, estamos em dívida com o doador. Esta dívida é sentida como uma pressão ou desconforto. Muitos não conseguem suportar esta pressão/desconforto e por isso evitam Tomar ou Tomam muito pouco. Preferem permanecer como Doadores. Porém, agir assim gera emaranhados sistêmicos, desordem e normalmente é sentida como um vazio interno ou descontentamento constante.

     Por exemplo: é comum perceber que pessoas com estados depressivos apresentem dificuldades no Tomar, principalmente quando se trata de Tomar algo de um dos pais; posteriormente esta postura se volta para o mundo. Elas trazem muitas justificativas como: o que receberam não foi suficiente, que tiveram uma infância infeliz ou colocam vários defeitos na pessoa que dá. No final o resultado é o mesmo: desordem sistêmica e ausência no Tomar.

     Aquele que evita Tomar mantém-se na postura de Inocência. Geralmente a pessoa que fica emaranhada na Inocência quando se ouve, por exemplo, que ela “prefere Dar a Tomar”. É como se inconscientemente dissesse: “é melhor você ficar devendo do que eu”. O que acontece é que quem fica nesta postura de apenas Dar não consegue manter um relacionamento saudável, pois não Toma o outro e, portanto não cria vínculo.

     Acontece em alguns casos de relacionamento de casal ouvir frases do tipo: “Eu me doei tanto, fiz tanto pelo meu parceiro(a) e ele(a) me traiu ou me deixou”. Isso ocorre pelo fato de que a pessoa se manteve na Inocência e não pagou o preço de Tomar o parceiro(a) em sua totalidade. Este parceiro(a) então, percebe inconscientemente que não consegue Dar e vai embora.

     A troca é a melhor forma de experimentar a inocência falada por Bert. Esta inocência ocorre quando retribuímos igualmente o que tomamos. Mas, como o Dar e Tomar respeita a Hierarquia, existem relações em que estra troca não é possível, como no caso dos pais falado anteriormente, neste caso, o agradecimento é chave para o Equilíbrio desta Ordem do Amor.

     O agradecimento é muito importante dentro desta dinâmica do Dar e Tomar. Muitas vezes não é possível retribuir o que se tomou, então a solução é agradecer. Segundo Bert, “quem agradece reconhece que está recebendo um presente sem saber se poderá retribuir. Aquele que dá acolhe este agradecimento e reconhecimento e o vê como uma dádiva”. Por exemplo, ao receber a Vida dos pais, a compensação ocorre quando esta pessoa se torna mãe/pai, ou se, por alguma razão não pode ou escolhe não ter filhos, a compensação acontece com um profundo sentimento de gratidão.