domingo, 26 de fevereiro de 2017

Mãe, Pai, Filhos, a base da família

     O ser humano possui a necessidade de pertencer a um grupo. Ser considerado “diferente” ou “não fazer parte de um grupo” gera um sentimento angustiante que muitas vezes dá-se o nome de solidão. Sem entrar na semântica de “solidão”, mas sim a usando de forma meramente ilustrativa, a solidão faz com que o Ser humano, consciente ou inconscientemente se envolva em situações ou sentimentos que limitam o seu crescimento. Bert Hellinger desenvolveu um trabalho, conhecido hoje como Constelação Familiar, onde explica sobre esta necessidade de Pertencimento com uma visão filosófica a respeito da Vida.

      A constelação familiar tem sido utilizada como instrumento de cura para muitas pessoas. Embora o próprio Bert Hellinger afirme que não se trata de ferramenta, método, abordagem e muito menos terapia, é visível a eficácia terapêutica nas pessoas que passam pelo processo da constelação. A partir do contato com a filosofia sistêmica e o trabalho vivencial da constelação familiar, a pessoa amplia a consciência a respeito de suas questões pessoais e muda a imagem interna que possui sobre sua família e seu papel dentro desta família.

A Importância do Pai e da Mãe e as lições que vêm deles

                
     
A família tem sido alvo de estudos das mais diversas linhas: terapêutica, filosófica, religiosa, antropológica, etc. Diversas teorias surgiram ao longo destes anos, e algumas delas se contradizem, trazendo confusão e dúvidas. Uma coisa é certa: Pai e Mãe tem influência total sobre os filhos, seja consciente ou inconscientemente, através da estrutura psicológica, ou da genética.

       Dentro da visão sistêmica de Bert Hellinger, a questão “Pais” é muito simples: Eles deram a vida a seus filhos. São as pessoas que a Vida (esta energia criadora da qual ainda pouco se compreende) escolheu para que você recebesse um corpo físico e pudesse realizar seu propósito na Terra. Portanto, todo o resto faz parte do seu aprendizado, daquilo que você se propôs a aprender, realizar e cumprir. Esta é ideia básica quando falamos em “pais e filhos” dentro da constelação familiar.

     “Ao dar a vida aos filhos [...] os pais dão-lhes, com a vida, a si mesmos, tais como são, sem acréscimo e sem exclusão. E por esta razão os filhos [...] não somente têm os seus pais, mas eles são seus pais.” (Bert Hellinger, 2008, p.36)

     Sophie Hellinger fala em seus seminários sobre os “acordos” que se faz com os pais antes de nascer. Por exemplo: se alguém se propõe a aprender a lidar com a rejeição e se amar, talvez ela “faça um acordo” com a pessoa que será sua mãe, para que esta a deixe num orfanato, ou que, de alguma forma não esteja presente em sua vida.  Este tipo de pensamento mostra o quanto a constelação possui um caráter filosófico, aonde as ideias vão além dos conceitos puramente materiais que a ciência atual pode explicar.

      Se continuar a seguir a linha de pensamento de Sophie, neste exemplo, esta mãe cumpriu seu papel e, portanto, a pessoa abandonada pode ser grata a ela, pois foi através deste “acordo cumprido” que pôde entrar em contato com as experiências, mesmo dolorosas, que fizeram sua alma crescer e aprender a amar a si mesmo, realizando assim o seu propósito.
               
Crianças Difíceis

“Nenhuma criança é difícil. O sistema é difícil. Algo em sua família encontra-se fora de ordem”.

   Existe algo que Bert Hellinger chama de “amor cego”, este é um amor que traz emaranhados sistêmicos. Ou seja, o filho, por amar seus pais em sua alma, não aguenta o sofrimento dos pais, então os imita como se quisesse dividir a “carga”. Por exemplo, se a mãe está deprimida, ou se o pai bebe demais, os filhos se sentem pressionados a encontrar alguma maneira de igualar o sofrimento, talvez fracassando na vida. Quando a dor dos pais é cegamente equilibrada pela dor dos filhos, vai passando de pessoa a pessoa, de geração em geração, perpetuando assim o sofrimento ao invés de curá-lo.

   A dinâmica oculta nas crianças difíceis é que quando um sistema familiar possui uma carga opressiva, algo que os demais membros da família negam ou excluem, esta criança, com um “amor cego” inclui novamente no sistema aquilo que foi excluído por todos. O que ajuda os pais nesta situação? Quando reconhecem o seu destino e também o destino do filho como um movimento da consciência sistêmica que os conduz. Este destino é mais do que um destino apenas individual e pessoal. Vai muito além da família em questão, alcançando assim também o seu entorno, atuando de modo curativo. Torna-os modestos e humildes, envolvendo-os com uma solidariedade amorosa e humana.

Pai Ausente e suas consequências

“Se eu como filho não posso tomar meu pai, então estarei perdido e não poderei sustentar nenhuma relação duradoura, nem alcançar o êxito.” Bert Hellinger

   Atualmente se fala muito a respeito do “Pai Ausente”: aquele que abandona a mãe com o filho e nunca mais volta; ou então, o que se separou da mãe e constituiu nova família; ou ainda o “pai ausente” porque não assumiu o filho. E por aí segue. Porém, se verificar a história da humanidade, a ausência da figura paterna é muito antiga, apenas mudando o enredo.

  Esta é uma geração pós-guerra, com netos e talvez bisnetos dos guerrilheiros. Quantos homens foram perdidos na guerra? Quantos pais ausentes? E os filhos que ficaram sem estes pais não puderam muitas vezes nem chorar esta perda, porque eles tinham que trabalhar para comer, ajudar a mãe, os irmãos, ou mesmo fugir para sobreviver. Esses mesmos “filhos sem pai” agora se tornaram pais, mas, inconscientemente não olham para seus filhos, porque sua alma ainda busca pelo pai perdido. Assim o ciclo de Pai Ausente se perpetua e se repete nas gerações. Bert Hellinger vai além da história, ele questiona: “quem é a pessoa mais excluída nas famílias? O pai”.

   Dentro do trabalho das constelações, o Pai é aquele que direciona o filho para o mundo. Enquanto a mãe traz o alimento, a nutrição, o amor; o pai é o sucesso, realização, plenitude, autoridade, firmeza, é o “não” que muitas vezes é difícil de dizer, é independência. Sua ausência pode causar vários emaranhados sistêmicos, porém os principais estão relacionados aos vícios de todos os tipos. Inclusive Bert diz que aqueles profissionais que trabalham em organizações de ajuda a adictos, somente podem auxiliar quando dentro de si, a figura pai está resolvida.

O que faz os filhos felizes?

   Bert Hellinger responde: “Quando os pais são felizes com os filhos. E como isso acontece? Quando no filho respeitam, amam e concordam com o outro membro do casal. Se fala muito de amor, mas qual é modo mais bonito de amar? Quando me alegro com o outro exatamente como ele é”.

   O seu amor ao filho como pais apenas continua e coroa seu amor como casal, porque este vem antes daquele.  Então quando o amor recíproco dos parceiros flui do fundo do coração, também flui do fundo do coração o seu amor de pais pelo filho. Tudo o que o homem e a mulher admiram e amam em si mesmos e no parceiro, também admiram e amam nos filhos. E tudo que os irrita e incomoda em si mesmos e no parceiro, também os irrita e incomoda no filho. (Bert Hellinger, 2008, p.43)

  Se um dos pais passar, direta ou indiretamente, esta mensagem ao filho: “não seja como seu pai/mãe”, o filho em geral seguirá este genitor excluído, como uma lealdade sistêmica. Isso se demonstra muitas vezes quando o filho repete comportamentos do genitor excluído. Por exemplo, se a mulher se casa com um homem alcóolatra, e esta teme que seu filho se torne igual ao pai, qual seria a solução? Olhar internamente para este filho e dizer: “aceito que você se torne alcóolatra como seu pai”.

Movimento Interrompido aos Pais

    Em muitas famílias a criança é separada precocemente da mãe, quando, por exemplo, precisa ir ao hospital e a mãe não pode visitá-la. Às vezes também ocorre uma separação imediatamente após o nascimento, quando, por exemplo, a criança nasce prematura e precisa ficar na incubadora. No caso de cesariana ocorre igualmente uma separação precoce.

     A criança sente a separação como uma grande dor. Ela se modifica após este evento, pois a dor se transforma em raiva ou desespero. Quando a mãe retorna, a criança afasta a mãe de si, pois se lembra da dor que sentiu. Assim, talvez, a mãe acredite ter falhado de algum modo e igualmente se retrai. Desta forma, os dois permanecem separados.

  Tal fato pode ter influência ao longo da vida. Quando ocorreu um movimento interrompido, principalmente em relação à mãe, por vezes também em relação ao pai, mais tarde a criança não se aproxima mais das outras pessoas. Sente medo da proximidade. Sempre que se aproxima de alguém se lembra da dor passada e interrompe o movimento de aproximação. Retrai-se, dá um passo para o lado, afasta-se, volta para o ponto de partida sem realmente ir adiante ou se aproximar. 

    Qual a solução neste caso? Retorna-se para a situação onde o movimento foi interrompido e o conclui. Isso pode acontecer através de um representante para esta mãe. Este representante (que pode ser um terapeuta) recebe a criança em seus braços e não larga. Quando ele desejar afastar-se, o representante o segura ainda mais forte, até que se acalme e relaxe em seus braços. Existe um trabalho chamado "abraço de contenção", onde o objetivo é muito semelhante. Muitas crianças hiperativas se tornam mais tranquilas com o abraço e contenção.

Referências Bibliográficas

HELLINGER, Bert. O Amor do Espírito. Goiânia: Atman, 2008
HELLINGER, Bert. As Ordens do Amor. São Paulo: Cultrix, 2001
HELLINGER, Bert. A Simetria Oculta do Amor. São Paulo: Cultrix, 1998
HELLINGER, Bert. Felicidad que Permanece. Barcelona: Rigden Institut Gestalt, 2006
HERMOSILLO, Rosa Doring. Constelaciones Familiares y Abrazo de Constención. México: Gudiño Cícero S.A., 2007
RUPERT, Franz. Simbiose e Autonomia nos Relacionamentos. São Paulo: Cultrix, 2010