terça-feira, 7 de agosto de 2018

Constelação Familiar, a Terapia Milagrosa



Parece mágica, em uma sessão você muda sua vida! É uma terapia milagrosa!

Sim, esse é um dos “slogans” que vi por aí ao divulgar o trabalho da constelação familiar. E confesso que me preocupo com o que está sendo difundido a respeito de um trabalho tão sério, profundo e que levou muito tempo para se estruturar.

Vamos por partes!

Trabalho com terapias há muitos anos, em sua maioria, na linha das terapias alternativas, e com a constelação pouco mais de seis anos. Porém nos últimos dois, teve um “boom” nas constelações: mais divulgação, mais demanda, e consequentemente mais oferta e é aí que quero chegar: como está a qualidade e a veracidade dessa oferta, afinal assim como se multiplicaram os profissionais oferecendo a abordagem, também cursos e formações duvidosas se espalharam feito pólvora, levando a “slogans” como esse.

Claro que é maravilhoso quando mais pessoas podem ter acesso a algo que possa fazê-las olhar a vida e a realidade de outra forma, se harmonizar com suas raízes e fazer as pazes de uma vez por todas com sua história, aumentando a qualidade de vida. E a constelação é um excelente caminho para isso. Repito: CAMINHO. Sim, porque a constelação é uma forma de se caminhar pela vida, de olhar e ressignificar a sua história e de seus ancestrais e com a realidade como um todo, fazendo com que, passo a passo, você possa se sentir mais pleno e mais forte. 

O próprio criador da constelação, Bert Hellinger, em seus mais diversos livros e palestras fala que aqui se trata de um caminho do conhecimento (mais tarde escreverei sobre isso de forma profunda). Porém, não é o que está sendo difundido por aí. Propagandas de que a constelação é uma terapia rápida e que traz soluções milagrosas tem surtido um efeito negativo, e confesso que me perturba um pouco. 

Primeiro porque não vejo a constelação como terapia, ela está mais para uma filosofia aplicada do que terapia em si. Isso se mostra, ao ver que não há necessidade de ser um terapeuta ou psicólogo para ser constelador. Pelo contrário, no Brasil, por exemplo, a constelação vem ganhando força no meio jurídico, onde advogados, juízes e outros do ramo estão usando a abordagem com sucesso em mediações. 

Além do que, para entrar nessa caracterização, haveria a necessidade de sessões semanais ou sequenciais como toda terapia exige. E a constelação não funciona assim. Você faz uma constelação e não volta a falar com o constelador para “analisar” sua constelação. Eu observo muitas vezes que quando se constela, existe sim efeitos terapêuticos, ou seja, a pessoa se sente melhor, mas não significa que seja terapia. A abordagem em sua origem e desenvolvimento, possui ferramentas que foram agregadas de processos terapêuticos como a análise transacional, técnicas de PNL, psicanálise, terapia primal, e talvez por isso a confusão.

Uma pessoa me disse uma vez que falar que a constelação é terapia fica mais fácil para o outro entender. Bom, aí é de cada um, mas eu prefiro esclarecer as coisas. Explicar constelação é muito desafiador, eu ainda tenho certa dificuldade, pois, é um processo profundo, filosófico e sensorial, é experiência. Não tem como explicar experiência, afinal cada ser humano vivencia uma experiência de forma diferente. 

O que é possível explicar é o processo de constelar, o método em si, mas constelação como filosofia, assim como os temas que ela aborda, levaria muito tempo mesmo. Entendo que em poucos minutos com um cliente novo, ou com alguém que não conhece nada é desafiador sim. Nesses casos, convido a pessoa à experimentar estar num grupo de constelação. E a teoria buscar em livros, artigos, cursos, palestras.

Eu vi muitos casos onde a pessoa constelou uma questão e teve uma sacada tão grande, posso até arriscar a dizer, uma cura tão grande, que eu fiquei encantada com a benção que essa pessoa recebeu. Mas, não é sempre assim. Quando as pessoas me procuram pela constelação, eu sempre oriento que não sei qual será o efeito da constelação. 

Essa semana eu recebi uma mensagem de alguém que constelou algo e que afirmou que “nada resolveu” e estava muito brava dizendo o quanto tudo isso era uma farsa. Quando recebo esse tipo de feedback, me questiono o que foi “vendido” para ela, como foi ofertado o trabalho da constelação, para que essa pessoa tivesse uma expectativa tão alta a respeito de uma possível resolução? 

E ao me questionar isso, me vem à mente a informação de que a grande maioria das pessoas não querem assumir a responsabilidade pela sua vida, história, decisões (conscientes ou não) e pela sua mudança. Elas esperam sempre que o mundo vai mudar, as pessoas precisam mudar, e o terapeuta, o constelador, o psicólogo, o médico, o remédio vai ser a cura milagrosa para não precisar assumir a sua responsabilidade.

Tenho um grupo de amigos que são facilitadores de constelação, além de excelentes terapeutas em diversas áreas, e temos uma dúvida (quase uma brincadeira) interna: há anos nesse CAMINHO das constelações, já constelamos dezenas de vezes e ainda precisamos constelar temas, curar feridas, aceitar pessoas que julgamos e excluímos, assumir cada vez mais nossa responsabilidade diante da vida. O que falar para aqueles que nos procuram com a seguinte pergunta: “uma constelação é suficiente para resolver meu problema?”

Bom, a resposta é simples: Não sei se uma constelação é suficiente. Posso dizer que a constelação é um caminho, talvez o início de um caminho, onde pode haver apenas um pequeno passo em direção a uma solução ou talvez já seja o caminho todo. Cada um sabe o que é melhor e o que é suficiente.

Uma coisa é certa: estamos todos aqui para nos desenvolvermos e nada melhor que as maiores lições de alma estejam justamente no seio familiar, afinal, mesmo que não tenhamos convívio social com os membros de nossa família, carregamos suas memórias em nossas células. Herdamos isso. Queiramos ou não, gostemos ou não, está tudo em nós.

Mas se você escolher o caminho das constelações familiares, saiba que profundas mudanças poderão acontecer sim. Profundas não é o mesmo que rápidas.

Aline Charane