terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Tipos de nascimento e a influência sobre seu comportamento


Você sabia que a forma como você nasceu pode influenciar significativamente seu comportamento, crenças e estilo de vida? Compartilho abaixo um pequeno resumo extraído do livro Renascimento de Fanny Van Laere, que mostra as possíveis crenças e comportamentos relacionados com os partos mais comuns.

O trabalho terapêutico do Renascimento têm como um dos objetivos, rastrear o modelo de nascimento, fazer o link com as crenças ou comportamentos adotados e ressignificar a forma como a criança interpretou estes modelos. 

"Embora cada situação seja única e cada bebê tenha seu próprio jeito de interpretar a realidade, um tipo específico de nascimento tem a tendência de criar padrões semelhantes. A seguir, apresentamos diferentes tipos de nascimento, com os possíveis padrões que a pessoa pode desenvolver."

CESARIANA

- Encontram dificuldades para tomar decisões e têm problemas para receber ajuda, mas, ao mesmo tempo, precisam desesperadamente.
- Insistem em fazer coisas por si mesmo (como forma inconsciente de provar que são capazes de fazer a passagem pelo canal do parto). Ao mesmo tempo, tendem a atrair pessoas ou circunstâncias que se interpõe em seu caminho e podem acabar necessitando de alguém para ajudá-lo ou “resgatá-lo”.
- Têm dificuldade para completar/terminar as coisas.
- Precisam muito de expressões físicas de afeto ou, ao contrário, têm repulsa ao toque.
- Sentem-se abandonados em momentos cruciais.
- Têm medo de facas e de instrumentos cortantes ou, ao contrário, têm fascínio por eles.
- Criam interrupções frequentes, especialmente nos relacionamentos. Podem criar interrupções em seu processo de Renascimento até superar esse padrão.

Cesariana Planejada

- Sentem-se interrompidos e não respeitados e se ressentem por isso.

Cesariana de Emergência

- Têm medo de ficar preso.
- Carregam pensamentos do tipo “Eu não posso fazer as coisas por mim mesmos. Preciso que me ajudem..”

PARTO ESTAGNADO

O parto pode ficar estagnado porque o processo de nascimento foi inibido pelos profissionais ou por qualquer pessoa presente, ou porque a mãe tem medo, e inconscientemente, o está retendo. Infelizmente, esta situação frequentemente resulta em um cesariana ou em parto com fórceps devido à incompetência dos profissionais ou à incapacidade da mãe de superar seu medo.

- Sentem-se contidos e controlados.
- Sentem que não podem ter o que querem, quando querem.
- Sentem-se irritados quando são retidos.
- Carregam pensamentos do tipo: “Nada está pronto para mim.” “As pessoas estão sempre tentando me reter.”

FÓRCEPS OU VENTOSAS

O uso do fórceps ou ventosas no nascimento, além de, possivelmente, causar enxaquecas e problemas de visão, tende a criar um padrão de luta e de esforço na vida. A pessoa também pode ter tiques nervosos em seu rosto. As marcas dos fórceps, às vezes, aparecem e desaparecem durante a sessão de Renascimento.

- Lutam com a vida.
- Receber ajuda é doloroso.
- Não gostam de ser controlados e manipulados.
- Procuram ajuda, mas têm medo de recebê-la.
- Têm medo da dor. Precisam estar no controle.
- Criam situações nas quais querem ser ajudados por outras pessoas.
- Carregam pensamentos do tipo: “Não posso fazer sozinho..”

CORDÃO UMBILICAL AO REDOR DO PESCOÇO

Isso geralmente ocorre quando o bebê absorveu muita pulsão de morte durante a gravidez e parece estar tentando cometer suicídio estrangulando a si mesmo. Os padrões são mais fortes se o cordão estiver enrolado de forma apertada ao redor do pescoço.

- Têm dificuldade de estar encarnado em um corpo físico.
- Criam obstáculos na vida e sabotam a si mesmos.
- Muitas vezes, sentem-se “estrangulados” em seus relacionamentos.
- Reprimem suas emoções.
- Têm medo da intimidade.
- Associam risco e intensidade com se sentirem vivos.

BEBÊ CIANÓTICO

Neste caso, o bebê não respira ao nascer. É comumente chamado de “bebê azul” e geralmente acontece porque o bebê está em um estado de choque fisiológico devido ao corte prematuro do cordão umbilical ou a um trabalho de parto muito difícil. Muitas vezes, o médico ou a parteira lhe dá um tapa a fim de que comece a respirar.

- Têm medo de estar em um corpo físico.
- Têm medo de avançar.
- Têm pulsões de morte.
- Têm padrão de escassez (por falta de oxigênio).
- Têm medo de serem feridos.

PARTO PREMATURO

- Desejam intensamente progredir e, ao mesmo tempo, têm medo do que virá.
- Não se sentem preparados.
- Sentem-se indefesos. Podem compensar essa sensação não aceitando a ajuda de ninguém e fazendo tudo por conta própria.
- Necessitam intensamente de afeto
- Podem chegar a sentirem-se extremamente vulneráveis.
- Normalmente, chegam cedo, ou tarde, como compensação.

INCUBADORA

- Sentem-se isolados e sozinhos.
- Têm problemas com a temperatura.
- Sentem-se fracos e indefesos.
- Têm medo do abandono.
- Têm forte conexão com máquinas ou tecnologia.
- Muitas vezes, passam por dois ciclos em seus projetos de vida (o primeiro para sair do útero, o segundo para sair da incubadora).

PARTO INDUZIDO

- Sentem que não são respeitados.
- Irritam-se facilmente.
- Têm dificuldades para iniciar as coisas.
- Precisam ser “induzidos” por alguém ou pelas circunstâncias para agir.
- Sentem ressentimento quando são “empurrados”.
- Não sabem o que querem.

PARTO HIPERMADURO

- Estão frequentemente atrasados ou têm problemas com o tempo.
- Sentem que as pessoas não podem suportar a sua presença.
- Têm medo e serem absorvidos.
- Sentem que não estão preparados.
- Se o parto foi doloroso para a mãe por qualquer razão, sentem que ferem as pessoas.
- Têm medo de completar as coisas.
- Sentem que não há saída.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

DAR E TOMAR NAS RELAÇÕES


     Uma das Ordens do Amor que Bert Hellinger observou nos sistemas é o Dar e Tomar nas relações. Todas as relações começam com este movimento. Esta Ordem é mais sutil e muitas vezes confundem-se com conceitos religiosos ou outros paradigmas da nossa sociedade, principalmente no que se refere ao termo Tomar.

     Usamos Tomar ao invés de Receber, pelo fato de que para se Tomar algo ou alguém há a necessidade de ação da pessoa que deseja tomar, de “ir em direção a”. Por exemplo, Tomar a Mãe: vemos numa constelação que o filho tomou sua Mãe quando este se movimenta em direção à ela. Portanto aquele que Dá estende os braços e oferta algo, mas o outro precisa do movimento de “ir em direção a” este algo, ou seja, Tomar. E é aí que muitas vezes ocorre o emaranhado sistêmico, pela ausência deste movimento de Tomar.

     A Ordem Dar e Tomar, ou Equilíbrio, como algumas pessoas denominam, respeita a Hierarquia por Tempo, ou seja, aquele que entrou primeiro no sistema Dá para quem entrou depois. O que entrou por último Toma daqueles que vieram antes. Portanto o pai dá para o filho, que dá para o filho; assim como o irmão mais velho dá para o que chegou depois e assim por diante. Este Dar não diz respeito apenas a coisas materiais e sim a tudo: a Vida, cuidados, valores, bens materiais, impressões, crenças (conscientes ou não), etc.

     Com a dinâmica do Dar e Tomar surge um sentimento que Bert Hellinger chama de Culpa e Inocência. Estes sentimentos atuam em conjunto com as três Ordens do Amor (Pertencimento, Dar e Tomar e Hierarquia). Para entender este conceito é importante eliminar o que foi aprendido a respeito destas duas palavras para não haver confusão. Dentro da Ordem Dar e Tomar, a Culpa é experimentada como obrigação, e Inocência como liberdade ou reivindicação.

     Bert Hellinger diz que “quem dá tem o direito de reivindicar e quem toma se sente obrigado. A reivindicação de um lado e a obrigação de outro constituem para toda relação o modelo básico de culpa e inocência. Aqueles que dão e aqueles que tomam não descansam até que se chegue a um equilíbrio. Isto significa que aquele que toma tem que ter a chance de dar e aquele que dá tem igualmente a obrigação de tomar”.

     Portanto, quando Tomamos algo, estamos em dívida com o doador. Esta dívida é sentida como uma pressão ou desconforto. Muitos não conseguem suportar esta pressão/desconforto e por isso evitam Tomar ou Tomam muito pouco. Preferem permanecer como Doadores. Porém, agir assim gera emaranhados sistêmicos, desordem e normalmente é sentida como um vazio interno ou descontentamento constante.

     Por exemplo: é comum perceber que pessoas com estados depressivos apresentem dificuldades no Tomar, principalmente quando se trata de Tomar algo de um dos pais; posteriormente esta postura se volta para o mundo. Elas trazem muitas justificativas como: o que receberam não foi suficiente, que tiveram uma infância infeliz ou colocam vários defeitos na pessoa que dá. No final o resultado é o mesmo: desordem sistêmica e ausência no Tomar.

     Aquele que evita Tomar mantém-se na postura de Inocência. Geralmente a pessoa que fica emaranhada na Inocência quando se ouve, por exemplo, que ela “prefere Dar a Tomar”. É como se inconscientemente dissesse: “é melhor você ficar devendo do que eu”. O que acontece é que quem fica nesta postura de apenas Dar não consegue manter um relacionamento saudável, pois não Toma o outro e, portanto não cria vínculo.

     Acontece em alguns casos de relacionamento de casal ouvir frases do tipo: “Eu me doei tanto, fiz tanto pelo meu parceiro(a) e ele(a) me traiu ou me deixou”. Isso ocorre pelo fato de que a pessoa se manteve na Inocência e não pagou o preço de Tomar o parceiro(a) em sua totalidade. Este parceiro(a) então, percebe inconscientemente que não consegue Dar e vai embora.

     A troca é a melhor forma de experimentar a inocência falada por Bert. Esta inocência ocorre quando retribuímos igualmente o que tomamos. Mas, como o Dar e Tomar respeita a Hierarquia, existem relações em que estra troca não é possível, como no caso dos pais falado anteriormente, neste caso, o agradecimento é chave para o Equilíbrio desta Ordem do Amor.

     O agradecimento é muito importante dentro desta dinâmica do Dar e Tomar. Muitas vezes não é possível retribuir o que se tomou, então a solução é agradecer. Segundo Bert, “quem agradece reconhece que está recebendo um presente sem saber se poderá retribuir. Aquele que dá acolhe este agradecimento e reconhecimento e o vê como uma dádiva”. Por exemplo, ao receber a Vida dos pais, a compensação ocorre quando esta pessoa se torna mãe/pai, ou se, por alguma razão não pode ou escolhe não ter filhos, a compensação acontece com um profundo sentimento de gratidão.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Aceitar os pais

   
"Quando o filho se queixa aos pais: “Vocês não me deram o suficiente, ou deram-me a coisa errada, portanto continuam a dever-me”, não consegue separar-se deles. Estas demandas vinculam estas crianças aos pais de tal maneira que se tornam incapazes de se deixam receber algo. Se os filhos se deixam tomar os pais como são recebendo também as coisas boas, esse ato de receber anularia as suas exigências e faria com que elas parecessem tolas. Do contrário, eles permanecerão atados aos pais, não podendo nem receber nem afastar-se.
    Aceitar os pais tem um efeito estranho: a separação. Não se trata de um mal, mas de algo que completa e aperfeiçoa o relacionamento com eles. Aceitar os pais significa: “Reconheço tudo o que vocês me deram. Foi o suficiente. O de mais que eu precisar, ganharei por mim mesmo, de modo que agora vou deixa-los em paz.” Significa ainda: “Recebo o que ganhei e, se deixo meus pais, continuo possuindo-os em mim.”.

    Num grupo, um médico muito bem-sucedido perguntou: “Que devo fazer? Meus pais se metem nos meus assuntos o tempo todo.” Eu lhe disse: “Eles tem o direito de meter o bedelho na sua vida quando quiserem! E você tem o direito de ir em frente e fazer o que achar melhor para você mesmo.”.
Filhos que não aceitam os pais estão constantemente procurando compensar esse déficit. Frequentemente, a busca de auto compreensão e iluminação não passa da busca de um pai ou mãe que ainda não foi aceito. A procura de Deus às vezes cessa ou toma rumo diferente depois de se aceitar um pai ou mãe. Muitas pessoas têm descoberto que sua “crise de meia-idade” resolveu-se logo que conseguiram tomar um dos pais até aí rejeitado.

    Nossos pais nos dão a vida e são os únicos capazes de fazer isso. Outras pessoas talvez deem alguma coisa além disso. Estritamente falando, não recebemos a vida de nossos pais – ela nos vem de longe por intermédio deles. Os pais são a nossa conexão com a fonte de vida, com algo além das falhas que porventura tenham. Ligados a eles, encontramos essa fonte mais profunda, que encerra muitas surpresas e mistérios. Uma coisa bonita acontece quando as pessoas observam seus pais e reconhecem neles a doente da vida. O amor exige que quem recebe reverencie o dom e o doador. 

    Quem ama e honra a vida, implicitamente glorifica e ama quem a dispensa. Quem despreza ou desmerece a vida, não a respeitando, amesquinha os que as dão. Quando as pessoas recebem e reverenciam o dom e o doador, erguem bem alto o presente até que rebrilhe; e, embora esse presente passe por meio delas àqueles que seguem, o doador continua banhado em sua luz.

     Quando sentimos que nossos pais nos devem alguma coisa, temos a imagem do que possa ser. É a imagem do bom pai ou da boa mãe. Aceitar os pais significa reservar a essas imagens benignas um lugar em nossos corações e permitir que façam ali boas obras. Trata-se de uma opção aberta à maioria das pessoas, mesmo quando foram feridas pelos pais. Aceitar os pais não quer dizer negar as coisas negativas, mas permitir a nós mesmos tocar as profundezas de seus corações, lá onde sofrem amargamente ao ver os filhos às voltas com o mesmo padrão em que estiveram enredados. Quando as pessoas conseguem atingir as profundezas do coração doa pais, estão mudadas e mudam também os pais, por ressonância.


     Sem dúvida, que tudo é mais fácil quando nosso pai ou mãe realmente demonstra essa bondade, e a maioria deles de vez em quando o faz. Porém, temos a possibilidade de contemplar os pais à luz do contexto de seu destino. Percebemos seus fracassos, seus sofrimentos e decepções, entregamo-los a seu fado para que lidem com ele como melhor entenderem e reconhecemos o nosso lugar na hierarquia familiar. Para além disto, atingimos o mistério mais amplo da vida, que flui através de nós."

Extraído de A Simetria Oculta do Amor, por Bert Hellinger

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Constelação Individual com Bonecos

Compartilho uma pequeno texto extraído do livro Muñecos, Metáforas y Soluciones, de María Colodrón, especialista em Constelação com Figuras.

"O desenrolar de uma constelação individual pode ocorrer de distintas formas: a partir de visualizações, mediantes âncoras de solo (papéis, pedaços de feltro, sapatos, etc.) e com bonecos ou outros objetos de representação ( pequenas pedras, fotos, etc).

O trabalho com bonecos, graças a sua versatilidade, pode ser aplicado de numerosas formas e com diversos objetivos. Porém, o  principal objetivo é ampliar a visão da pessoa que está constelando a respeito de sua questão (os humanistas chamariam de Tomada de Consciência, Bert Hellinger, denomina “Perder a Inocência”), de forma que aumente o grau de liberdade nas escolhas cotidianas.

Os bonecos são uma ferramenta que permite representar visual e espacialmente distintos aspectos da realidade subjetiva do cliente.  Servem para avaliar o estado atual da pessoa, os conflitos expressados e não expressados, assim como a imagem interna do problema e de suas tentativas de solução até o momento.

Em seguida exemplifico um caso terapêutico utilizando os bonecos.  O cliente é um homem de 45 anos, divorciado há muito tempo, que traz a demanda: “Necessito ajuda para romper com minha amante, porque me dei conta que estou ferindo a mim mesmo”.

Abaixo segue a primeira imagem interna a partir do posicionamento dos bonecos:



A imagem mostra vários aspectos que demonstram desordem tanto no sistema de origem quanto no atual:

- O cliente está posicionado na mesma linha que seus pais, sendo ele o primeiro da fila, assim sendo, forma com sua mãe um casal, enquanto que o pai se encontra distante e de costas para eles;
- Sua ex esposa se encontra posicionada na frente, no espaço do “futuro” e dentro do campo de visão, como se ficasse um assunto pendente;
- A amante se encontra à direita, na periferia do seu campo visual, olhando para fora (chama a atenção que este posicionamento é semelhante à posição de seu pai).

A partir desta imagem podemos observar quais as dinâmicas ocultas que estão atuando demonstrando que o cliente não está disponível para um relacionamento com alguém também disponível.  Isso é claramente verificável quando um novo personagem entra na configuração: uma nova parceira. Segue imagem abaixo:


A imagem fala por si só. O cliente não olha para a futura parceira. A partir deste momento o caminho de solução tomado pelo facilitador foi encerrar o assunto pendente com sua ex esposa, explorar a relação com seu pai e trabalhar o respeito para com sua mãe.

Existem significados espaciais praticamente universais, quer dizer, compartilhadas pela maioria das pessoas e culturas. Por exemplo, “à frente” costuma ser associado ao “futuro” e “atrás” com o passado; da mesma forma que, o movimento da esquerda para a direita significa avanço (assim como os ponteiros do relógio), e o contrário como retrocesso.  Em relação à verticalidade; ideias como espiritual, estar ausente ou “nas nuvens”, costumamos apontar com os movimentos ascendentes. Ao contrário, com movimentos descendentes, se encontra o corporal, os obstáculos. Olhar para baixo, costuma associar-se a estar deprimido, ou sobrecarregado (ex. olhar para o chão nas constelações, costuma indicar a relação com um “morto”).

Também a relação espacial entre dois elementos está cheia de significados: se está perto, ou longe, se estão frente a frente ou de costas um para o outro. Por isso, a disposição dos bonecos no espaço pode representar de forma clara e ampla, estados emocionais, atitudes pessoais diante de temas arquetípicos, como “futuro”, “destino”, “doença”, “pai/mãe”, etc.

Como é possível perceber, os bonecos permitem olhar os problemas a partir de uma nova perspectiva, já que novas conexões e analogias são reconhecidas no momento da configuração. Um novo mundo de crenças ou paradigmas é formado, facilitando o desenvolvimento de atitudes emocionais e interpretações novas, e sugerindo possibilidades de solução que até então não eram acessadas conscientemente."

Tradução livre por Aline Charane M.



terça-feira, 24 de maio de 2016

O trauma do nascimento

“No Renascimento consideramos que há 9 traumas humanos. Também chamamos de inibidores da felicidade humana.

Os traumas humanos nos desconectam de nossa natureza divina. Estes inibidores de nosso estado natural de benção nos fazem esquecer quem somos na realidade e nos empurram a criar mecanismos de autodefesa.

Durante os primeiros anos do movimento de Renascimento, Leonard Orr falava de cinco grandes traumas: o trauma do nascimento, negativos específicos, síndrome da desaprovação parental, impulso subconsciente de morte e as vidas passadas. Anos mais tarde incorporou o trauma da escola, o trauma da religião e a senilidade. Em 2009, decidi acrescentar a repressão do feminino. Hoje falarei um pouco sobre o trauma de nascimento.

Durante o ciclo de dez sessões, se trabalha com os traumas humanos. De sessão em sessão, o renascedor aprofunda nas questões específicas do nascimento e infância do cliente. Desta forma, se mostra com clareza quais destes traumas o afeta mais e normalmente se começa por aí.

As sessões de renascimento reparam o dano físico, mental e emocional produzido no nascimento como resultado da luta por tomar a primeira respiração.

Talvez o nascimento seja o momento mais difícil da vida e a dor principal é causada por vários fatores, desde a ignorância dos profissionais implicados, até a forma do parto (cesárea, fórceps, etc).

Esta é a razão principal pelo qual as pessoas subventilam quando respiram; seu mecanismo respiratório está inibido porque estão reprimindo o medo que sentiram de seu nascimento. A maioria das pessoas necessitam várias sessões de Renascimento para poder sentir-se o suficientemente seguras para se conectar neste medo e liberá-lo.

Durante nosso nascimento tomamos nossa primeira respiração, cristalizamos esta primeira experiência do universo físico e extraímos muitas conclusões sobre nós mesmos e sobre o mundo. Tristemente esta experiência frequentemente é dolorosa.

Os pais, especialmente a mãe, entregam seu poder para médicos, em vez de fazer uma boa preparação para o parto (que deveria incluir a superação de seu próprio trauma de nascimento), para estar mais conectada com seu bebê e sua intuição. A experiência demonstra que, se a mãe não superou seu próprio trauma de nascimento, terá tendência de repetir o mesmo tipo de complicações quando der à luz. Da mesma forma que se o pai não superou seu próprio trauma de nascimento, será difícil oferecer uma presença amorosa e um apoio de qualidade.

Como o nascimento é uma co-criação entre o bebê e seus pais, prover um nascimento natural e amoroso é a forma no qual, todos podem curar-se e começar a ter relações amorosas e respeitosas.

A falta de preparação deixa lugar a todo tipo de práticas desnecessárias e traumáticas, tanto para a mãe como para o bebê. Desta forma, se perpetua a ideia de que a vida é uma luta e que é difícil o que propicia a violência neste mundo.

A chegada de um novo ser a este mundo é um acontecimento absolutamente sagrada e deveria ser um ato de amor, segurança e respeito. Frederick Heboyer, primeiro médico francês que começou a trabalhar com o parto natural, demonstra em suas pesquisas que os bebês nascidos sem violência chegam a ser crianças mais tranquilas e adultos mais equilibrados.

Impressiona, às vezes, a raiva e a dor que pode chegar a expressar através dos gritos do bebê que teve um nascimento violento e não respeitado.  O cordão umbilical, por exemplo, deveria ser cortado vários minutos depois do nascimento do bebê. É importante que o bebê tome suas primeiras respirações com o cordão umbilical intacto e com toda a segurança que ele transmite. Quando se corta o cordão enquanto ele ainda pulsa, faz com que o bebê sinta que não recebe ar e que vai morrer. Como consequência, toma sua primeira respiração com urgência, escassez e dor.

Cada tipo de nascimento imprime uma memória celular que tem impacto enorme sobre a pessoa. Embora cada situação seja única e cada bebê tem sua própria forma de interpretar a realidade, as pesquisas revelam padrões parecidos segundo cada tipo de nascimento. A forma como nascemos é também nosso primeiro êxito na vida, e nosso subconsciente registra todos os momentos pelos quais passamos como modelo de êxito. Costumamos repetir este “guia” em muitas áreas de nossa vida, principalmente quando fazemos algo novo. Por isso, é importante mudar as partes dolorosas deste “guia”.” 

Texto de Fanny Van Laere


quarta-feira, 30 de março de 2016

Os Cinco Círculos do Amor

Primeiro círculo: Os pais
O primeiro círculo do amor começa com o amor recíproco de nossos pais, como um casal. Foi desse amor que nascemos. Eles nos geraram e nos acolheram como seus filhos. Eles nos nutriram, abrigaram, nos protegeram por muitos anos. Tomar deles amorosamente esse amor é o primeiro círculo do amor. Ele é a condição para todas as outras formas de amor. Como poderá alguém, mais tarde, amar outras pessoas, se não experimentou esse amor? Faz parte desse amor que amemos também os antepassados de nossos pais. Eles também foram crianças e receberam de seus pais e avós o que depois transmitiram a nós. Também eles, através de seus pais e avós, vincularam-se a um destino especial, assim como nós nos vinculamos ao seu destino. A esse destino nós também assentimos com amor. Então, olhamos para nossos pais e nossos antepassados e dizemos amorosamente a eles: “Obrigado”. Este é o primeiro círculo do amor.

Meditação sobre o primeiro círculo do amor
Fecho os olhos e volto à minha infância. Contemplo o início de minha vida. O início foi o amor de meus pais como homem e mulher. Eles foram atraídos um pelo outro por um forte instinto, por algo poderoso que atuou por trás deles. Contemplo essa força que os uniu e me curvo diante dela. Contemplo como meus pais se uniram e como resultei de sua união, com gratidão e amor.
Depois meus pais me aguardaram, com esperança e também com receio, esperando que tudo corresse bem. Minha mãe me deu à luz, com dores. Meus pais se contemplaram e se admiraram: “É essa a nossa criança?" Então disseram: “Sim, você é a nossa criança, e nós somos seus pais”. Eles me deram um nome, deram-me seu sobrenome e disseram por toda parte: “Este é o nosso filho". Desde então pertenço a essa família. Eu tomo minha vida como membro dessa família.
A despeito de todas as dificuldades que ocorreram, sobretudo em minha infância, a vida em si não sofreu dano. Essas dificuldades podem exigir muito de mim. Quando, porém, contemplo tudo o que pesou - por exemplo, ter sido entregue a outras pessoas ou não ter conhecido o meu pai - eu digo sim a isso, da maneira como aconteceu, e com isso recebo uma força especial. Então encaro meus pais e digo: “O essencial eu recebi de vocês. Eu reconheço tudo o mais que vocês fizeram, seja o que for, mesmo que tenha envolvido alguma culpa. Eu reconheço que isso também pertence à minha vida e concordo com isso”.
Sinto, em meu interior, que sou os meus pais, que os conheço por dentro. Posso me imaginar, por exemplo: onde em mim eu sinto a minha, mãe? Onde em mim eu sinto o meu pai? Dos dois, quem está mais em evidência e quem está mais escondido? Permito que ambos fiquem em evidência, encontrem-se e se juntem em mim, como meu pai e minha mãe. Em mim eles permanecerão sempre juntos. Posso alegrar-me com isso. Eu os tenho realmente em mim.
Seja o que for que tenha acontecido em minha infância, digo sim a isso. Afinal, tudo se ajeitou. Isso me fez crescer. Além de meus pais, muitas pessoas me ajudaram. Quando meus pais não estavam disponíveis, de repente havia um professor ou uma tia em seu lugar. Ou então alguém na rua me perguntou: “O que h| com você, criança?” Essa pessoa cuidou de mim, levou-me talvez de volta para casa. Eu tomo todas essas pessoas, junto com meus pais, em meu coração e em minha alma. De repente, sinto em mim uma grande plenitude. Quando tomo tudo isso com amor, sinto-me inteiro e em harmonia. Esse amor está em mim e se desenvolve em mim.

O segundo círculo do amor: Infância e puberdade
O segundo círculo do amor é a infância. Tudo que os pais me deram, os cuidados que tiveram por mim, dia e noite, perguntando-se: “De que a criança está precisando?”, tudo isso eu recebo deles com amor. Pois é incrível quanto de bom os pais dão a seus filhos. Os pais sabem o que isso lhes custou e o que significa para eles. Eu reconheço isso. Tudo o que aconteceu em minha infância eu aceito agora - inclusive que meus pais não tenham visto alguma coisa, que tenham cometido erros ou que algo de insano tenha acontecido. Tudo isso faz parte. Na medida em que me defronto com esse monte de desafios e também com o sofrimento, a dor e a necessidade de me afirmar, na medida em que aceito e assumo isso, eu cresço.
A criança procura evitar, às vezes, tomar e agradecer, tornando-se ela própria uma doadora. Porém, muitas vezes, ela dá algo errado ou dá em excesso: por exemplo, quando pretende assumir por seus pais algo que não lhe compete como criança.  A criança tem, às vezes, dificuldade em receber, porque o que vem dos pais é tão grande que a criança não pode retribuir na mesma medida. Então ela prefere tomar menos, para que não tenha de retribuir tanto.
Observei isso em centenas de constelações, em muitas variações. Os filhos não podem suportar o desnível que sentem em relação aos seus pais, principalmente quando não sabem que a verdadeira compensação do que receberam dos pais consiste em transmitir isso a outros - especialmente, mais tarde, aos próprios filhos. A sensação de não poderem retribuir é um dos motivos que impelem os filhos a deixar a casa de seus pais.
Muitas vezes, os adolescentes recorrem a recriminações para adquirirem o direito de separar-se dos pais. Porém, quando os filhos percebem que é possível compensar, transmitindo a outros o que receberam e que é imperiosa a necessidade de compensar dessa maneira, eles conseguem separar-se dos pais sem necessidade de críticas. Aprendem como lidar com o que receberam e aprendem o que podem fazer com isso. A vantagem dessa atitude é que não precisam negar nada do que receberam dos pais. Podem tomar tudo, porque sabem que o repassarão.
Tomando pouco, fazendo recriminações, rejeitando o amor dos pais, viabilizo a separação, mas ela acontece de uma forma que empobrece a todos. É tomando que cresço como filho.
Quando eu tomo muito, isso me custa muito, porque não posso conservá-lo. Então, também sinto a necessidade de passar adiante, e isso é “caro”, porque custa mais. Aí também existe mais.  Eles se separam, os pais e os filhos. Muitos não sabem que existe uma forma de compensar que atravessa gerações. Quando alguém percebe que não precisa retribuir tanto aos pais, mas pode mais tarde repassar isso a outros, fica aliviado em sua alma. Então os filhos podem dizer aos pais: “Vocês podem me dar, eu tomo tudo”.
Somente quando percorri totalmente esse segundo círculo do amor é que estou pronto para uma relação conjugal confiável. Dificuldades e problemas nos relacionamentos ulteriores resultam, em sua maioria, de não terem sido completados os dois primeiros círculos do amor. Então precisamos retomar e resgatar o que faltou.

Meditação sobre o segundo círculo do amor
Fecho os olhos e me recolho. Passo a passo, como se desce os degraus de uma escada, retorno à minha infância. Passo a passo. Talvez eu encontre situações onde sinto uma dor ou fico intranquilo. Espero nesse ponto, até que surja uma imagem do que aconteceu nessa época. Muitos traumas da primeira infância estão associados a situações em que fomos deixados sós ou não conseguimos chegar aonde queríamos ou precisávamos.
Agora imagino essa criança, que sou eu mesmo, e olho para minha mãe. Sinto meu amor por ela e o impulso de aproximar-me dela. Olho em seus olhos e lhe digo simplesmente: “Eu lhe peço!”. Algo se movimenta na fantasia interior, tanto na mãe quanto em mim mesmo. Talvez ela dê um passo em minha direção, e eu ouse dar um passo para perto dela. Entro nessa vivência, até que interiormente chego a meu objetivo e relaxo nos braços de minha mãe. Então olho para ela e digo: “Agradeço!”
Isto é um processo interno, porém não se deve fazer muito de uma só vez. Já na primeira vez algo se solta na alma. No dia seguinte posso repetir o processo. De novo desço as escadas, de volta à infância, e chego talvez a uma situação ainda mais antiga. Experimento, talvez, de novo o movimento em direção à minha mãe.
Depois de alguns dias, repito o processo - até que, por assim dizer, esteja totalmente com minha mãe.
Tudo aquilo que deploro eu excluo. Tudo aquilo que recrimino eu excluo. Toda pessoa de quem tenho raiva eu excluo. Toda situação em que me sinto culpado eu excluo. Assim vou me tornando cada vez mais pobre.
O caminho oposto seria o seguinte:
Tudo aquilo que lamento, eu encaro e digo: sim, assim foi, e coloco isso dentro de mim, com todo o desafio que me faz. Eu lhe digo: “Agora vou fazer algo com você. Vou tomar você como meu amigo ou como minha amiga” - seja o que for.
Tudo aquilo que me levou a acusar alguém, eu encaro e digo: “Sim. Olho-me para ver como posso receber de outra forma o que ficou perdido para mim. Vejo que força eu tenho para fazer isso sozinho, sem pedir ajuda a outro. Então tomo essa situação para dentro de mim, e ela se torna uma força. O mesmo vale para culpas pessoais, que são aquilo que mais queremos excluir e rejeitar. Olho para elas e digo: “Sim.” A culpa tem consequências. Eu as aceito e faço algo com elas. Assim, a culpa se torna uma força, e eu também cresço.
Quando tomo para mim o que rejeitei, o que me causou dor, fez-me sentir culpado ou injustiçado, seja o que for, nem tudo entra em mim. Algo permanece fora. Eu digo sim a tudo, mas o que entra em mim é somente a força. O resto fica simplesmente fora, não me infecciona: pelo contrário, desinfeta-me e purifica.
Assim posso imaginar que meus pais dizem sim ao que lhes pesa. Isso pertence a eles, inclusive seus enredamentos, que encaro de uma certa distância, de uma posição inferior - como uma criança. Deixo que meus pais permaneçam completamente como meus pais. Não preciso assumir por eles nada que lhes pertença exclusivamente. Tudo isso permanece fora de mim, porque pode ficar com eles.

Terceiro círculo: Dar e tomar
O adulto consegue igualmente dar e tomar.
Tomar o amor, como uma pessoa entre outras, tem grandeza. Quando posso tomar dessa forma, também posso dar. O dar começa com o correto tomar.

Nas relações adultas é importante que cada pessoa possa, de algum modo, tomar da outra. Essa é a compensação mais importante. Não é preciso que ambas deem na mesma medida, mas que tomem para si na mesma medida. O ato de tomar reciprocamente é o mais difícil. Ele une mais profundamente, pois ambos estão na posição de quem necessita. Isso une.
A maioria das pessoas dão na expectativa de receber e, sobretudo, eles tem pouco respeito pelas outras pessoas, pois se consideram melhores e permanecem numa posição de superioridade.
Trata-se de tomar, valorizando o que se toma. Essa é a arte.
Quando alguém me dá alguma coisa, ele me deseja algo de bom. Eu o tomo assim, porque me é dado por ele. Nesse momento tudo o que ele dá se toma valioso. Aquilo se transforma e, de repente, eu percebo: “Ah, isso também tem para mim algo de belo”. É nisso que consiste o tomar.
Como pessoas adultas, devemos dar sem esperar receber do outro algo que ele não pode dar-nos. Essa atitude nos dá força para nos tornarmos pais ou mães. Nela, o tomar se completa e começa a transmissão, o intercâmbio entre as gerações. Este é o terceiro círculo.
Quando ambos, o homem e a mulher, tomaram totalmente seus pais e se tornaram um casal, eles deixam fluir aquilo que veio de seus pais. Então se dão reciprocamente, a partir dessa plenitude, mas a experiência mostra que isso nem sempre se consegue.

Meditação sobre o terceiro círculo do amor
Coloco-me diante de meu parceiro e olho primeiro para a direita, para os meus pais. Vivencio, mais uma vez, o processo de tomar o amor de meus pais. Meu parceiro está diante de mim. Por sua vez, ele também olha primeiro para a direita, para seus pais, c vivência de novo o processo de tomar o amor de seus pais. Depois de olhar para meus pais e também para meus ancestrais, olho para os pais do parceiro e para os seus ancestrais. Vejo tudo o que eles lhe deram, e como ele se enriqueceu com isso. De repente, algo muda em nossa relação, pois meu parceiro me aparece de uma outra maneira, e o amor de seus pais também se manifesta nele.
Ao mesmo tempo, vejo também o lado difícil que lhe pesou, o que lhe aconteceu. Vejo isso como algo que ele toma para si, como uma força, e o que parecia tão pesado permanece fora. O mesmo faço com o que é pesado para mim. Então nos olhamos de novo nos olhos. Eu lhe digo: sim. E ele me diz: sim. Ambos nos dizemos mutuamente que agora estamos prontos um para o outro.

Segunda meditação sobre o terceiro círculo do amor
Mais tarde o casal recebe uma criança. A mulher recebe a criança do marido, e o marido recebe a criança da mulher. Ambos dizem: “Nossa criança”. Eles se veem nela como partes de um todo maior. Eles são sempre apenas uma parte da criança e se exercitam para ver em tudo também o parceiro, e para aceitá-lo em tudo.
Olho para essa criança, a nossa criança. Atrás dela vejo meu parceiro e tudo o que há de especial na família dele. Vejo tudo o que nela é diferente de minha família e o tomo, como igualmente válido, em meu coração. Nesse momento a criança tem o mesmo valor para ambos e pode unir-se da mesma forma a ambos os pais. Cada parceiro diz ao outro: “Esta é a nossa criança: tem a sua parte, como pai (mãe), e a minha parte como mãe (pai). Assim se enriquece a criança e a relação.
Separações acontecem, via de regra, quando um parceiro se retira para sua família de origem. Ele retoma por não ter tomado alguma coisa ou, talvez, por ter-se intrometido, não deixando com os seus pais o destino que lhes toca.
Muitas separações advêm porque um dos parceiros se decepciona. As expectativas que tenho em relação ao meu parceiro são frequentemente as mesmas que, em criança, eu tinha em relação aos meus pais. Agora espero que o meu parceiro as satisfaça, mas ele não as satisfaz e também não pode satisfazê-las. Então me decepciono com ele e separo-me, por causa disso. Esse é um dos padrões de separação. Nesse particular é útil exercitar-me primeiro em realmente tomar os meus pais. Então, já não preciso esperar isso do meu parceiro. Nossa relação fica mais sóbria.
Há, contudo, mais alguma coisa que pode levar a separações. Existe um crescimento pessoal, um destino pessoal. Talvez um dos parceiros esteja vivendo uma evolução importante para ele, e o outro parceiro sinta que o seu próprio caminho não é o mesmo. Então cada um concorda com o caminho do parceiro e com o seu próprio caminho e ambos se permitem segui- lo. Algumas vezes isso também pode ser um motivo de separação, mas essa é uma separação com amor. Os parceiros podem se dizer reciprocamente: “Eu amo você e amo o que me conduz e o que conduz você”. Esta é uma frase profunda. A separação, quando ocorre, é mais fácil para ambos. Muitas vezes, porém, somente um dos parceiros a diz, e o outro se opõe. Então um diz ao outro: “Meu crescimento pede isso de você”.
Dos filhos, não. Aos filhos a gente diz: “Ficarei sempre com vocês.” Um crescimento separado dos filhos não pode ser um verdadeiro crescimento. Isso só ocorre em casos muito excepcionais. A gente pode dizer a eles: “Peço que aceitem minha separação de sua mãe - ou de seu pai -, mas ambos estaremos sempre presentes para vocês”. Isso é difícil para os filhos, mas é uma possibilidade de crescimento para todos, se é feito dessa maneira. E todos permanecem unidos.

Quarto e quinto círculos do amor: Concordar com todos os seres humanos e com o mundo

O quarto círculo ultrapassa os limites da consciência. Nele eu concordo com todas as pessoas de minha família como elas são, inclusive os excluídos e os difamados. Aqui se trata da plenitude interna, isto é, todos os que pertencem à minha família ganham um lugar em minha alma, inclusive os que foram rejeitados, desprezados e esquecidos. Sem eles eu me sentia incompleto, no corpo e na alma. Somente quando os incluo em minha alma e em meu amor é que me sinto pleno e inteiro.

O mesmo movimento em que incluo em meu amor o que até agora foi excluído ou temido, eu estendo, em seguida, a todos os outros seres humanos. Este é o quinto círculo do amor.
O quinto círculo do amor se dirige à humanidade, ao mundo, enquanto tal. Aqui se trata de concordar com o mundo como ele é. Isso diz respeito à capacidade de reconciliação entre os povos, por exemplo. Este é o amor universal, que sabe que somos movidos por poderes superiores.

Para mim, todos os seres humanos são bons. Cada um é apenas da maneira como pode ser. Ninguém pode ser diferente do que é, em sua situação. Por isso, trato a todos com o mesmo respeito. Essa atitude, esse modo de proceder é uma realização da própria alma. Ninguém pode dispensar o outro dessa realização. Muitos que buscam ajuda querem tê-la sem realização pessoal, mas quando sentem quanta alegria essa realização lhes proporciona, essa compreensão lhes abre novas possibilidades de se moverem na vida. Isso sempre passa por uma compreensão. A emoção do amor tem pouca compreensão. Quando fico estacionado nessa emoção, pouca coisa acontece, fico amarrado. No quarto e no quinto círculos do amor ultrapasso essa estreiteza e atinjo um nível espiritual.

Trecho extraído do livro Um Lugar para os Excluídos de Bert Hellinger