"O desenrolar de uma constelação
individual pode ocorrer de distintas formas: a partir de visualizações,
mediantes âncoras de solo (papéis, pedaços de feltro, sapatos, etc.) e com
bonecos ou outros objetos de representação ( pequenas pedras, fotos, etc).
O trabalho com bonecos, graças a
sua versatilidade, pode ser aplicado de numerosas formas e com diversos
objetivos. Porém, o principal objetivo é
ampliar a visão da pessoa que está constelando a respeito de sua questão (os
humanistas chamariam de Tomada de Consciência, Bert Hellinger, denomina “Perder
a Inocência”), de forma que aumente o grau de liberdade nas escolhas
cotidianas.
Os bonecos são uma ferramenta que
permite representar visual e espacialmente distintos aspectos da realidade
subjetiva do cliente. Servem para avaliar
o estado atual da pessoa, os conflitos expressados e não expressados, assim
como a imagem interna do problema e de suas tentativas de solução até o
momento.
Em seguida exemplifico um caso
terapêutico utilizando os bonecos. O
cliente é um homem de 45 anos, divorciado há muito tempo, que traz a demanda: “Necessito
ajuda para romper com minha amante, porque me dei conta que estou ferindo a mim
mesmo”.
Abaixo segue a primeira imagem
interna a partir do posicionamento dos bonecos:
A imagem mostra vários aspectos
que demonstram desordem tanto no sistema de origem quanto no atual:
- O cliente está posicionado na
mesma linha que seus pais, sendo ele o primeiro da fila, assim sendo, forma com
sua mãe um casal, enquanto que o pai se encontra distante e de costas para
eles;
- Sua ex esposa se encontra
posicionada na frente, no espaço do “futuro” e dentro do campo de visão, como
se ficasse um assunto pendente;
- A amante se encontra à direita,
na periferia do seu campo visual, olhando para fora (chama a atenção que este
posicionamento é semelhante à posição de seu pai).
A partir desta imagem podemos
observar quais as dinâmicas ocultas que estão atuando demonstrando que o cliente
não está disponível para um relacionamento com alguém também disponível. Isso é claramente verificável quando um novo
personagem entra na configuração: uma nova parceira. Segue imagem abaixo:
A imagem fala por si só. O cliente não olha para a futura parceira. A partir
deste momento o caminho de solução tomado pelo facilitador foi encerrar o
assunto pendente com sua ex esposa, explorar a relação com seu pai e trabalhar
o respeito para com sua mãe.
Existem significados espaciais
praticamente universais, quer dizer, compartilhadas pela maioria das pessoas e
culturas. Por exemplo, “à frente” costuma ser associado ao “futuro” e “atrás”
com o passado; da mesma forma que, o movimento da esquerda para a direita
significa avanço (assim como os ponteiros do relógio), e o contrário como
retrocesso. Em relação à verticalidade;
ideias como espiritual, estar ausente ou “nas nuvens”, costumamos apontar com
os movimentos ascendentes. Ao contrário, com movimentos descendentes, se
encontra o corporal, os obstáculos. Olhar para baixo, costuma associar-se a
estar deprimido, ou sobrecarregado (ex. olhar para o chão nas constelações,
costuma indicar a relação com um “morto”).
Também a relação espacial entre
dois elementos está cheia de significados: se está perto, ou longe, se estão
frente a frente ou de costas um para o outro. Por isso, a disposição dos
bonecos no espaço pode representar de forma clara e ampla, estados emocionais,
atitudes pessoais diante de temas arquetípicos, como “futuro”, “destino”, “doença”,
“pai/mãe”, etc.
Como é possível perceber, os
bonecos permitem olhar os problemas a partir de uma nova perspectiva, já que
novas conexões e analogias são reconhecidas no momento da configuração. Um novo
mundo de crenças ou paradigmas é formado, facilitando o desenvolvimento de
atitudes emocionais e interpretações novas, e sugerindo possibilidades de
solução que até então não eram acessadas conscientemente."