
Poucas pessoas estabelecem a conexão entre seus pais e seus conflitos na vida adulta. Elas resistem em admitir que sua relação com seus pais e até sua infância exerce uma poderosa influência sobre sua vida.
Para
se tornar um adulto saudável, é preciso encerrar a própria infância. Em
princípio, é possível encerrar a própria infância quando a criança interior
dividida, e até carente, acolhe a si mesma. Quando suas necessidades infantis
são aceitas, essas partes proporcionam à pessoa, como recompensa, também sua
alegria de viver infantil original.
“A coisa mais valiosa que os filhos recebem dos pais – não importa quem
estes sejam ou o que possam tem feito – é a oportunidade de viver”. Bert
Hellinger
Criança Ferida e Criança Saudável
Quando
você era criança, sempre que valorizavam, apoiavam e confiavam em você, você
conseguia passar pelo processo de aprendizado com mais probabilidades de êxito.
Isso também o ajudou a construir uma boa imagem de si mesmo, que ficou impressa
em sua memória celular, se tornou parte de sua mente e se converteu em sua
criança interior saudável.

Algumas
defesas mais comuns são: negação (isto não está realmente acontecendo),
repressão (isso nunca aconteceu), dissociação (não me lembro do que aconteceu),
projeção (está acontecendo com você e não comigo), conversão (como
compulsivamente ou faço amor compulsivamente quando sinto que está
acontecendo), minimização (ocorreu, mas não foi tão grave).
Franz
Ruppert, criador do trabalho de constelação de traumas psíquicos, diz que “em
algumas pessoas existem três divisões da psique”. A Parte Traumatizada: que
permanece presa aos traumas, aos medos e às dores da experiência traumática. A
Parte de Sobrevivência: que procura afastar da consciência a terrível
experiência, para sobreviver ao choque (aqui entram os mecanismos de defesa
citados acima). A parte Saudável: que se desenvolveu de modo sadio até a
experiência traumática, e que pode voltar a ser saudável.
Quanto
mais traumatizado está alguém, mais ele dirige suas atividades psíquicas para o
exterior, porque o contato com o interior é doloroso demais. Aí existem
sentimentos muito pesados de medo, raiva, tristeza ou vergonha, com as quais a
pessoa não quer entrar em contato. Esta postura faz com que a pessoa se afaste
cada vez mais de si e perca o contato com seu centro interior.
Dentro
de uma família, traumas continuam porque os pais traumatizados “deixam como
herança” a seus filhos suas estruturas psíquicas traumatizadas. A forma como
isso acontece ainda é alvo de diversas pesquisas. Muitas vezes é possível
perceber emaranhados sistêmicos de traumas não integrados das gerações
anteriores. Por exemplo, quem passou por
guerras: às vezes os descendentes demonstram medos parecidos com seus
antecessores, como medo da morte ou de que faltarão suprimentos, carências, e
outros.
Ao
olhar para a sua história e seus sentimentos, é possível descobrir a pessoa que
realmente é e aprender a dar-lhe o que se necessita. Isso se estiver disposto a
lidar emocionalmente com a verdade de sua infância, a abandonar a negação do
sofrimento, a desenvolver empatia para com a criança que você era e também a
compreender as razões de seus medos.
Não
importa quão ferido você foi durante a infância, sempre é possível curar a
criança interior. Esta é uma maneira muito eficiente de se reconectar com seu
verdadeiro Eu. À medida que as cisões internas provocadas pelos traumas vividos
vão sendo integrados, se vive mais no aqui e agora. Somente no presente estamos
no máximo de nossa força e no “adulto saudável”. Bert Hellinger resume o “estar presente” com
estas três palavras: força, concentração, ação.
Autonomia
Autonomia
derivado do grego, significa “ser para si a sua própria lei”. A verdadeira
autonomia significa não precisar submeter-se a ninguém e ser capaz de seguir os
próprios padrões internos.
Há
pessoas que, em decorrência de experiências desagradáveis no passado, não estão
interiormente em condições de aproveitar as oportunidades que lhes são
oferecidas para aumentar sua autonomia. Quem ainda sofre a dor de feridas
antigas está aprisionado em si mesmo e não tem liberdade interior.
A
verdadeira autonomia consiste em poder dizer um “sim” incondicional a si mesmo
e à realidade de sua própria vida e assumir a plena responsabilidade por ela,
seja o que for que tenha acontecido.
O ASSENTIR, COMO LIBERAÇÃO E
CURA DO PASSADO

“Assentir
a algo ou a alguém significa estar em “sintonia com”, e é uma experiência
pessoal. A esta pessoa (ou situação) assentimos, independentemente se nos
agrada, se nos dá algo ou nos tira, seja qual for sua exigência. Isso ou esta
pessoa que eu assinto está a partir daí dentro de mim, faz parte do que eu sou.
O assentimento exterior é consequência de um reconhecimento e um amor que
previamente experimentei dentro de mim. Graças a este assentimento tanto eu
quanto o outro nos enriquecemos e nos tornamos mais plenos.
Assentimento
quer dizer também, aceito o outro tal como é, sem restrições ou julgamentos. O
que antes parecia estranho e ameaçador se transforma em uma parte minha que
faltava. E isso acontece, sem o outro saber, a vibração do assentimento alcança
a todos. E como o assentimento produz
este efeito? De onde vem esta força transformadora? Da sintonia com a fonte
criadora, que move e pensa tudo como é, olhando a todos da mesma forma”.
MEDITAÇÃO PARA A
CRIANÇA FERIDA – por Bert Hellinger
Fechem os olhos e retornem à
época onde causavam preocupações para seus pais ou adoeciam. Olhem com amor
para esta criança de deixem-se guiar por ela. Para onde esta criança olha? Para
aquele no qual a família não está olhando. Dizemos à esta pessoa: “Olho para
você com amor. Para mim você faz parte”.
Então, talvez, olhamos para os
nossos pais e dizemos a eles: “Estou olhando para alguém que amo. Por favor,
olhem também comigo para lá”.
E quem tiver filhos, talvez uma
criança difícil, uma criança que os preocupa, que está doente, que tem
acidentes. Olhem para o mesmo lugar que está criança está olhando – com amor.
Talvez a criança esteja olhando
para uma criança abortada ou para alguém que vocês rejeitam; para alguém que
talvez tenha sido, em uma geração passada, vítima de um crime realizado por
alguém da família, talvez crimes cometidos na guerra e a criança olha para
isso. Ou então olha para alguém que a família rejeita, por se envergonhar. A
criança olha para ele com amor, pois os outros se envergonham dele. Mas mesmo
assim ele faz parte, assim como todos os outros.
Agora olhamos para esta pessoa
com amor, através do amor do espírito, que tomou todos a seu serviço, assim
como são, sem distinção, pois os seus objetivos são mais amplos do que
imaginamos. Vemos o efeito e o sentimos em nós. E sentimos como a criança
talvez possa se acalmar, como se sente melhor.
Referências Bibliográficas e Sugestões de
Leitura
BRADSHAW, John. Volta ao Lar. Rio de Janeiro: Rocco,
1995
HELLINGER, Bert. Mistica Cotidiana. Argentina: Alma
Lepik, 2008
HELLINGER, Bert. As Ordens do Amor. São Paulo: Cultrix,
2001
MILLER, Alice. O Drama da Criança Bem Dotada. São
Paulo: Summus, 1986
RUPERT, Franz. Simbiose e Autonomia nos Relacionamentos.
São Paulo: Cultrix, 2010
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