terça-feira, 4 de abril de 2017

O QUE FAZ O AMOR DAR CERTO (RELACIONAMENTO DE CASAL)


                “O relacionamento de casal é o que existe de mais importante. Todos nós viemos de uma relação de casal. Através dela a vida é passada adiante. Por isso, num relacionamento estamos conectados com aquilo que leva o mundo adiante e o dirige”. Bert Hellinger

 “Eu amo você e aquilo que nos guia”.  Bert Hellinger

EMARANHADOS SISTÊMICOS
               
                No seio da família existe uma profunda necessidade de justiça e compensação. A família e o grupo familiar se comportam como se tivessem uma alma comum. Essa alma vela para que exista na família um equilíbrio entre a perda e o ganho, equilíbrio este que abarca várias gerações. Por exemplo, se um homem se separou levianamente de sua primeira mulher, ferindo-a, e essa mulher tem raiva dele, ele talvez passe pela experiência de que a filha do seu segundo matrimônio fique com raiva e que tenha em relação a ele os mesmos sentimentos da mulher. A solução neste caso seria esse homem dizer à sua primeira mulher: “Fui injusto com você. Sinto muito. Reconheço tudo o que você me deu. Seu amor foi grande e o meu também e ele pode perdurar.” É importante dissolver o primeiro vínculo de modo positivo.

                Talvez as piores consequências para uma relação de casal resultem dos emaranhados de cada parceiro com seu grupo familiar. Isso acontece, sobretudo, quando um dos parceiros ou ambos, sem que o percebam, são tomados a serviço, como substitutos, para a solução de antigos conflitos dos respectivos grupos familiares. Por exemplo: Embora um homem e uma mulher se sentissem muito ligados, surgiam entre eles conflitos inexplicáveis. Certo dia, quando a mulher se postava furiosa diante do marido, um terapeuta observou que seu rosto mudava até assumir o aspecto de uma velha. E ela censurava o marido por coisas que nada tinham a ver com ele. O terapeuta perguntou: “Quem é essa velha?” Aí ela lembrou de que sua avó, que tinha um restaurante, fora muitas vezes arrastada pelos cabelos pelo avô no meio do salão, à vista de todos os fregueses. Então ficou claro que a raiva que ela sentia contra seu marido era a raiva reprimida que a avó sentira contra o avô.

          Muitas crises inexplicáveis do casamento nascem de uma transferência como essa. Tal processo, que é inconsciente, nos assusta, porque ficamos entregues a ele e não sabemos sua causa. Depois de saber de tais emaranhamentos tomamos mais cuidado quando nos sentimos tentados a ofender pessoas que não nos tenham dado motivo para isso.

             "Muito do que ocorre no relacionamento do casal e de seus filhos vem à luz nas constelações familiares. Nelas o homem ou a mulher escolhe, a partir de um grupo de participantes, representantes para membros de sua família e os coloca uns em relação aos outros dentro de um espaço. Os representantes, a partir do momento em que ocupam o seu lugar, sentem da mesma forma que as pessoas que estão representando. Isso ocorre sem que os representantes saibam algo sobre elas. Deste modo vem à luz uma relação, até então oculta, com um outro membro da família. Revela-se assim, que nas constelações familiares os representantes mergulham em algo que os conecta com as pessoas ausentes e não apenas na superfície, de forma externa, e sim dentro de um âmbito onde uma força que guia todos conjuntamente é experimentada. Eu chamo esta força de grande alma.” Bert Hellinger

               Quando a pessoa posiciona a família de uma forma centrada, ela o faz em conexão com essa grande alma. As constelações não apenas trazem à luz algo até então oculto, mas também indicam caminhos para a solução. O ponto decisivo das constelações é mostrar o caminho para a solução de um emaranhado e conduzir os atingidos a esse caminho. Porém a solução do emaranhado ocorre somente quando os atingidos se conectam com algo maior, isto é, quando abandonam conscientemente algo anterior e se abrem para algo novo, mesmo que isso a princípio cause medo. O conhecimento e a compreensão por si só não bastam. Necessita-se também uma força especial. A fonte desta força é, por um lado, a ligação com os pais e os ancestrais e, por outro, o ato de se inserir em algo maior. Portanto uma boa frase de solução, no caso dos casais é: “eu amo você com tudo aquilo que nos conduz."

DAR E TOMAR NA RELAÇÃO DE CASAL – uma lei sistêmica

                O adulto saudável consegue igualmente dar e tomar. Nas relações adultas é importante que cada pessoa possa, de algum modo, tomar da outra. Essa é a compensação mais importante. Não é preciso que ambas deem na mesma medida e sim que tomem na mesma medida. O ato de tomar reciprocamente é o mais difícil. Ele une mais profundamente, pois ambos estão na posição que necessitam.

               A maioria das pessoas dá na expectativa de receber. Como adultas, devemos dar sem esperar receber do outro algo que ele não pode nos dar. Em uma relação de casal cada um pode dar apenas o que o outro é capaz de receber e devolver. Se um der mais que o outro, a relação está arruinada. Essa atitude nos dá força para nos tornarmos pais ou mães. Nela o tomar se completa e começa a transmissão, o intercâmbio entre as gerações.

               O Equilíbrio: Logo que um recebe ou toma algo do outro, sente-se em dívida e então também dá algo, mas não apenas a mesma coisa ou na mesma medida. Por amar o outro ele dará um pouco mais. É o que acontece na relação de casal. Quando se ama dá-se um pouco mais, porém apenas um pouco, senão a coisa se torna novamente perigosa. O outro toma o que é dado e também se sente em dívida e, assim devolve algo ao outro. E novamente um pouco mais. Esses muitos “poucos” conduzem a plenitude na relação. A desvantagem é que quanto mais ambos se dão, mais difícil será a separação, pois esta troca entre o dar e tomar une. Por isso quem almeja certa independência, quem pensa que aquele parceiro talvez não seja a pessoa certa e que talvez exista algo diferente, ou melhor, deve apenas dar e tomar pouco. Assim mantém certa liberdade, uma liberdade de trocar de parceiro.

O QUE FAZ O AMOR DAR CERTO?

- A Grandeza da Sexualidade: Através da consumação do amor cria-se um vinculo profundo. Alguns pensam que a sexualidade é algo mau. Porém a sexualidade leva a vida adiante contra todos os obstáculos. Nesse sentido, a sexualidade é maior que o amor. Naturalmente, tem uma grandeza especial quando consumada com amor. Quando os parceiros se olham nos olhos ao se amar, isto é a realização de seu amor recíproco. O reconhecimento da grandeza do ato sexual é a principal condição para que o amor dê certo.

- Tomar o cônjuge e sua família: Assim como na dinâmica de tomar tudo que vem dos pais, também na relação de casal tomamos tudo o que vem do cônjuge. Este tomar principia com a sua família de origem, com sua leveza e seu pesar. Depois, o tomar se estende aos parceiros e filhos anteriores (no caso de ter filhos) do cônjuge. Muitas vezes ao iniciar um relacionamento com alguém que já tem filhos, ou já teve um casamento (uma família), algumas pessoas evitam tomar esta parte da história do cônjuge.

- Vínculo aos parceiros anteriores: Pertencem ao sistema familiar, todos os parceiros anteriores do cônjuge e também os seus parceiros anteriores. O novo cônjuge percebe, inconscientemente, o vínculo de seu cônjuge com seu/sua parceiro/a anterior e muitas vezes não ousa toma-lo completamente. Portanto, uma segunda relação só tem sucesso quando o vínculo aos parceiros anteriores é reconhecido e honrado tendo como precedência sobre o novo vínculo e quando os novos parceiros reconhecem e têm uma dívida com os parceiros anteriores. Portanto o vínculo da primeira relação é maior do que da segunda e assim por diante.

- Hierarquia X Dar e Tomar: Em um relacionamento de casal, ambos devem reconhecer-se como iguais! Qualquer tentativa de colocar-se diante do cônjuge numa atitude de superioridade, própria dos pais ou de dependência, característica da criança, restringe o fluxo de amor entre casal e coloca a relação em perigo.

- Renúncia da Família de Origem: As ordens de amor entre casal envolvem também uma renúncia que começa na infância. Pois o filho precisa renunciar a primeira mulher de sua vida: sua mãe; assim como a mulher precisa renunciar o seu pai. Por esta razão, o filho precisa passar cedo da esfera da mãe para a o pai. E a filha precisa retornar cedo da esfera do pai para a da mãe.

Exercício meditativo para Relacionamento de Casal, por Bert Hellinger

“Coloco-me diante de meu parceiro e olho primeiro para a direita, para os meus pais. Vivencio, mais uma vez, o processo de tomar o amor de meus pais. Meu parceiro está diante de mim. Por sua vez, ele também olha primeiro para a direita, para seus pais, c vivência de novo o processo de tomar o amor de seus pais. Depois de olhar para meus pais e também para meus ancestrais, olho para os pais do parceiro e para os seus ancestrais. Vejo tudo o que eles lhe deram, e como ele se enriqueceu com isso. De repente, algo muda em nossa relação, pois meu parceiro me aparece de uma outra maneira, e o amor de seus pais também se manifesta nele.
Ao mesmo tempo, vejo também o lado difícil que lhe pesou, o que lhe aconteceu. Vejo isso como algo que ele toma para si, como uma força, e o que parecia tão pesado permanece fora. O mesmo faço com o que é pesado para mim. Então nos olhamos de novo nos olhos. Eu lhe digo: sim. E ele me diz: sim. Ambos nos dizemos mutuamente que agora estamos prontos um para o outro.”
“Amar significa dizer a alguém: Sim eu amo você tal como você é. Mesmo que não corresponda aos meus sonhos e esperanças, o fato de você existir faz-me mais feliz do que meus sonhos.” Bert Hellinger


                      Referências Bibliográficas e Sugestões de Leitura

HELLINGER, Bert. Amor à Segunda Vista. Goiânia: Atman, 2009
HELLINGER, Bert. A Simetria Oculta do Amor. São Paulo: Cultrix, 2006
HELLINGER, Bert. Felicidad que Permanece. Barcelona: rigden Institut Gestalt, 2007
HELLINGER, Bert. O Amor do Espírito. Goiânia: Atman, 2009
HELLINGER, Bert. Para que o Amor dê Certo. São Paulo: Cultrix, 2001
RUPERT, Franz. Simbiose e Autonomia nos Relacionamentos. São Paulo: Cultrix, 2010








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