“O
relacionamento de casal é o que existe de mais importante. Todos nós viemos de
uma relação de casal. Através dela a vida é passada adiante. Por isso, num
relacionamento estamos conectados com aquilo que leva o mundo adiante e o
dirige”. Bert Hellinger
“Eu amo você e aquilo que nos
guia”. Bert Hellinger
EMARANHADOS SISTÊMICOS
No
seio da família existe uma profunda necessidade de justiça e compensação. A
família e o grupo familiar se comportam como se tivessem uma alma comum. Essa
alma vela para que exista na família um equilíbrio entre a perda e o ganho,
equilíbrio este que abarca várias gerações. Por exemplo, se um homem se separou
levianamente de sua primeira mulher, ferindo-a, e essa mulher tem raiva dele,
ele talvez passe pela experiência de que a filha do seu segundo matrimônio
fique com raiva e que tenha em relação a ele os mesmos sentimentos da mulher. A
solução neste caso seria esse homem dizer à sua primeira mulher: “Fui injusto
com você. Sinto muito. Reconheço tudo o que você me deu. Seu amor foi grande e
o meu também e ele pode perdurar.” É importante dissolver o primeiro vínculo de
modo positivo.
Talvez
as piores consequências para uma relação de casal resultem dos emaranhados de
cada parceiro com seu grupo familiar. Isso acontece, sobretudo, quando um dos
parceiros ou ambos, sem que o percebam, são tomados a serviço, como substitutos,
para a solução de antigos conflitos dos respectivos grupos familiares. Por
exemplo: Embora um homem e uma mulher se sentissem muito ligados, surgiam entre
eles conflitos inexplicáveis. Certo dia, quando a mulher se postava furiosa
diante do marido, um terapeuta observou que seu rosto mudava até assumir o
aspecto de uma velha. E ela censurava o marido por coisas que nada tinham a ver
com ele. O terapeuta perguntou: “Quem é essa velha?” Aí ela lembrou de que sua
avó, que tinha um restaurante, fora muitas vezes arrastada pelos cabelos pelo
avô no meio do salão, à vista de todos os fregueses. Então ficou claro que a
raiva que ela sentia contra seu marido era a raiva reprimida que a avó sentira
contra o avô.
Muitas
crises inexplicáveis do casamento nascem de uma transferência como essa. Tal
processo, que é inconsciente, nos assusta, porque ficamos entregues a ele e não
sabemos sua causa. Depois de saber de tais emaranhamentos tomamos mais cuidado
quando nos sentimos tentados a ofender pessoas que não nos tenham dado motivo
para isso.
"Muito
do que ocorre no relacionamento do casal e de seus filhos vem à luz nas
constelações familiares. Nelas o homem ou a mulher escolhe, a partir de um
grupo de participantes, representantes para membros de sua família e os coloca
uns em relação aos outros dentro de um espaço. Os representantes, a partir do
momento em que ocupam o seu lugar, sentem da mesma forma que as pessoas que
estão representando. Isso ocorre sem que os representantes saibam algo sobre
elas. Deste modo vem à luz uma relação, até então oculta, com um outro membro
da família. Revela-se assim, que nas constelações familiares os representantes
mergulham em algo que os conecta com as pessoas ausentes e não apenas na
superfície, de forma externa, e sim dentro de um âmbito onde uma força que guia
todos conjuntamente é experimentada. Eu chamo esta força de grande alma.” Bert
Hellinger
Quando
a pessoa posiciona a família de uma forma centrada, ela o faz em conexão com
essa grande alma. As constelações não apenas trazem à luz algo até então
oculto, mas também indicam caminhos para a solução. O ponto decisivo das
constelações é mostrar o caminho para a solução de um emaranhado e conduzir os
atingidos a esse caminho. Porém a solução do emaranhado ocorre somente quando os
atingidos se conectam com algo maior, isto é, quando abandonam conscientemente
algo anterior e se abrem para algo novo, mesmo que isso a princípio cause medo.
O conhecimento e a compreensão por si só não bastam. Necessita-se também uma
força especial. A fonte desta força é, por um lado, a ligação com os pais e os
ancestrais e, por outro, o ato de se inserir em algo maior. Portanto uma boa
frase de solução, no caso dos casais é: “eu amo você com tudo aquilo que nos
conduz."
DAR E TOMAR NA RELAÇÃO DE CASAL – uma lei sistêmica
O
adulto saudável consegue igualmente dar e tomar. Nas relações adultas é
importante que cada pessoa possa, de algum modo, tomar da outra. Essa é a
compensação mais importante. Não é preciso que ambas deem na mesma medida e sim
que tomem na mesma medida. O ato de tomar reciprocamente é o mais difícil. Ele
une mais profundamente, pois ambos estão na posição que necessitam.
A
maioria das pessoas dá na expectativa de receber. Como adultas, devemos dar sem
esperar receber do outro algo que ele não pode nos dar. Em uma relação de casal
cada um pode dar apenas o que o outro é capaz de receber e devolver. Se um der
mais que o outro, a relação está arruinada. Essa atitude nos dá força para nos
tornarmos pais ou mães. Nela o tomar se completa e começa a transmissão, o
intercâmbio entre as gerações.
O
Equilíbrio: Logo que um recebe ou toma algo do outro, sente-se em dívida e
então também dá algo, mas não apenas a mesma coisa ou na mesma medida. Por amar
o outro ele dará um pouco mais. É o que acontece na relação de casal. Quando se
ama dá-se um pouco mais, porém apenas um pouco, senão a coisa se torna
novamente perigosa. O outro toma o que é dado e também se sente em dívida e,
assim devolve algo ao outro. E novamente um pouco mais. Esses muitos “poucos”
conduzem a plenitude na relação. A desvantagem é que quanto mais ambos se dão,
mais difícil será a separação, pois esta troca entre o dar e tomar une. Por
isso quem almeja certa independência, quem pensa que aquele parceiro talvez não
seja a pessoa certa e que talvez exista algo diferente, ou melhor, deve apenas
dar e tomar pouco. Assim mantém certa liberdade, uma liberdade de trocar de
parceiro.
O QUE FAZ O AMOR DAR CERTO?
- A Grandeza da Sexualidade: Através
da consumação do amor cria-se um vinculo profundo. Alguns pensam que a
sexualidade é algo mau. Porém a sexualidade leva a vida adiante contra todos os
obstáculos. Nesse sentido, a sexualidade é maior que o amor. Naturalmente, tem
uma grandeza especial quando consumada com amor. Quando os parceiros se olham
nos olhos ao se amar, isto é a realização de seu amor recíproco. O
reconhecimento da grandeza do ato sexual é a principal condição para que o amor
dê certo.
- Tomar o cônjuge e sua família:
Assim como na dinâmica de tomar tudo que vem dos pais, também na relação de
casal tomamos tudo o que vem do cônjuge. Este tomar principia com a sua família
de origem, com sua leveza e seu pesar. Depois, o tomar se estende aos parceiros
e filhos anteriores (no caso de ter filhos) do cônjuge. Muitas vezes ao iniciar
um relacionamento com alguém que já tem filhos, ou já teve um casamento (uma
família), algumas pessoas evitam tomar esta parte da história do cônjuge.
- Vínculo aos parceiros
anteriores: Pertencem ao sistema familiar, todos os parceiros anteriores do
cônjuge e também os seus parceiros anteriores. O novo cônjuge percebe,
inconscientemente, o vínculo de seu cônjuge com seu/sua parceiro/a anterior e
muitas vezes não ousa toma-lo completamente. Portanto, uma segunda relação só
tem sucesso quando o vínculo aos parceiros anteriores é reconhecido e honrado
tendo como precedência sobre o novo vínculo e quando os novos parceiros
reconhecem e têm uma dívida com os parceiros anteriores. Portanto o vínculo da
primeira relação é maior do que da segunda e assim por diante.
- Hierarquia X Dar e Tomar: Em um
relacionamento de casal, ambos devem reconhecer-se como iguais! Qualquer
tentativa de colocar-se diante do cônjuge numa atitude de superioridade,
própria dos pais ou de dependência, característica da criança, restringe o
fluxo de amor entre casal e coloca a relação em perigo.
- Renúncia da Família de Origem:
As ordens de amor entre casal envolvem também uma renúncia que começa na
infância. Pois o filho precisa renunciar a primeira mulher de sua vida: sua
mãe; assim como a mulher precisa renunciar o seu pai. Por esta razão, o filho
precisa passar cedo da esfera da mãe para a o pai. E a filha precisa retornar
cedo da esfera do pai para a da mãe.
Exercício
meditativo para Relacionamento de Casal, por Bert Hellinger
“Coloco-me diante de meu parceiro
e olho primeiro para a direita, para os meus pais. Vivencio, mais uma vez, o
processo de tomar o amor de meus pais. Meu parceiro está diante de mim. Por sua
vez, ele também olha primeiro para a direita, para seus pais, c vivência de
novo o processo de tomar o amor de seus pais. Depois de olhar para meus pais e
também para meus ancestrais, olho para os pais do parceiro e para os seus
ancestrais. Vejo tudo o que eles lhe deram, e como ele se enriqueceu com isso.
De repente, algo muda em nossa relação, pois meu parceiro me aparece de uma
outra maneira, e o amor de seus pais também se manifesta nele.
Ao mesmo tempo, vejo também o
lado difícil que lhe pesou, o que lhe aconteceu. Vejo isso como algo que ele
toma para si, como uma força, e o que parecia tão pesado permanece fora. O
mesmo faço com o que é pesado para mim. Então nos olhamos de novo nos olhos. Eu
lhe digo: sim. E ele me diz: sim. Ambos nos dizemos mutuamente que agora estamos
prontos um para o outro.”
“Amar significa dizer a alguém:
Sim eu amo você tal como você é. Mesmo que não corresponda aos meus sonhos e
esperanças, o fato de você existir faz-me mais feliz do que meus sonhos.” Bert
Hellinger
Referências Bibliográficas e Sugestões de
Leitura
HELLINGER, Bert. Amor à Segunda Vista. Goiânia: Atman,
2009
HELLINGER, Bert. A Simetria Oculta do Amor. São Paulo:
Cultrix, 2006
HELLINGER, Bert. Felicidad que Permanece. Barcelona: rigden Institut Gestalt, 2007
HELLINGER, Bert. O Amor do Espírito. Goiânia: Atman,
2009
HELLINGER, Bert. Para que o Amor dê Certo. São Paulo:
Cultrix, 2001
RUPERT, Franz. Simbiose e Autonomia nos Relacionamentos.
São Paulo: Cultrix, 2010
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