Rupert
Sheldrake, biólogo renomado, fez uma observação sobre os campos espirituais.
Cada um de nós se movimenta dentro de um determinado campo. O primeiro campo é
o da nossa família. A consciência nos diz o que temos que fazer para pertencer
a este campo, se fizermos isso, temos consciência boa, tranquila, ou seja,
teremos certeza que faremos parte. Porém, se me comporto de uma forma que pode
colocar em risco este pertencer, sinto a consciência pesada e essa consciência
nos força a mudar nosso comportamento de forma que possamos pertencer ao campo
novamente.
A
natureza do nosso campo familiar é determinada pela história da nossa família:
sua religião, suas crenças, país de origem, etc. Essa natureza é moldada por acontecimentos
marcantes, como a história dos relacionamentos dos pais e dos avós, morte de
uma criança muito nova, aborto, parto prematuro, adoção, suicídio, guerra,
exílio forçado, troca de religião, incesto, antepassado agressor ou vítima,
traição, ou mesmo a confiança. As ações generosas e altruístas de nossos pais e
de nossos antepassados são saudáveis para nós, enquanto suas más ações
modificam o campo familiar, obrigando as gerações posteriores a uma compensação.
Para
Hellinger, a consciência é o órgão de equilíbrio sistêmico que nos avisa sobre
se o “movimento” (conduta, atitude, opinião) que estamos fazendo nos afasta ou
não de nosso sistema, neste caso familiar. É como um sensor que nos sinaliza
quando o direito de pertencer a um grupo corre perigo. Portanto, nesse
contexto, a boa consciência significa apenas: “Posso estar seguro de que ainda
pertenço ao meu grupo.” E a má consciência significa: “Receio não fazer mais
parte do grupo. Assim, a consciência pouco tem a ver com leis e verdades
universais, mas é relativa e varia de um grupo para outro”.
Bert
Hellinger aponta três campos espirituais de consciência: Consciência Pessoal,
Consciência Coletiva e Consciência Espiritual. Cada qual com seu alcance,
funcionamento e ordens.
A
Consciência Pessoal é regida pela
dinâmica “culpa e inocência” permeando conceitos de moralidade, baseado no
“certo e errado”, a qual está diretamente ligada a valores familiares e à
educação recebida. É estreita e tem seu
alcance limitado. Pois, através de sua diferenciação entre bom e mau, só
reconhece para alguns o direito de pertencer, excluindo os demais.
Experimentamos a consciência pessoal como boa e má consciência. Sentimo-nos bem
quando temos boa consciência e mal quando temos má consciência. Isso significa
que ela cuida para que fiquemos conectados com essas pessoas e grupos. Ela
assegura nossa sobrevivência.
Na
Consciência Coletiva, a consciência
deixa de ser pessoal e passa a estar ligada ao grupo. Aqui se faz presente um
poder de atuação inconsciente, o poder da alma do grupo e apenas sentimos seus
efeitos. Este poder cobra qualquer desrespeito para com o grupo, em relação às
forças de vínculo, hierarquia e compensação (Ordens do Amor). É mais ampla,
defendendo também os interesses daqueles que foram excluídos pela consciência
pessoal.
Contudo,
a consciência coletiva também tem um limite porque abrange somente os membros
dos grupos que são governados por ela. É uma consciência poderosa e seus
efeitos são mais fortes do que os da consciência pessoal. Está a serviço da
sobrevivência do grupo inteiro, mesmo que para isso alguns precisem ser
sacrificados. Nesta
Consciência, o princípio da ordem é determinante e os membros que chegam por
último aos sistemas são escolhidos pelos emaranhados sistêmicos. Assim, o
membro familiar posterior que vive agora responde pelos membros anteriores, que
já morreram. Na justiça da Consciência Coletiva, quem veio depois, está a
serviço das forças do vínculo e pertencimento, independente da vontade e
compreensão.
Assim,
“culpa e inocência” são dois lados da mesma moeda que se encontram a serviço
das Ordens do Amor, em suas diferentes instâncias de consciências: pessoal,
coletiva e espiritual. No vínculo, a culpa é experimentada como exclusão e
distância, e a inocência como conforto e proximidade. Na ordem, a culpa é
vivida como transgressão e medo de punição e a inocência como retidão e
lealdade. No equilíbrio entre o dar e tomar das relações, a culpa é sentida
como obrigação e a inocência como liberdade ou reivindicação.
A
Consciência Espiritual nos conduz
para além dos limites. Supera as limitações das outras duas consciências,
limitações estas que surgem através da diferenciação entre bom e mau e da
diferenciação entre pertencimento e exclusão. Ela também estrutura a filosofia
de Bert sobre a aceitação incondicional do outro e das coisas tal como são, se
baseando no amor que tudo une, sem preconceitos, julgamentos ou controle.
Aqui,
reside o amor do espírito e o movimento do espírito, do qual Bert se refere. Para
o amor do espírito não existe mais ou menos pertencimento, nenhum direito maior
ou menor de pertencer, para ele, nada vai mais além do existir presente. O amor
do espírito se mantém em movimento criador, presente em tudo. Percebemos nossa
sintonia com este amor quando entramos em contato com o assentir à vida como é
e a todos como são.
O
movimento do espírito é diferente do movimento da Consciência Pessoal, na qual
culpa e inocência se encontram presentes. Nossa sintonia com a Consciência
Espiritual é reconhecida quando nos encontramos na calma, centrados; e sentida
quando estamos em paz. Ela gera leveza. Seguir esta consciência exige grande
esforço espiritual, pois ela nos afasta da obediência aos ditames da nossa
família, religião, cultura e identidade pessoal.
*Adpatado de textos de Bert Hellinger, Brigitte C. Ribes e Jacob Schneider
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