Aceitar os pais tem um efeito
estranho: a separação. Não se trata de um mal, mas de algo que completa e
aperfeiçoa o relacionamento com eles. Aceitar os pais significa: “Reconheço
tudo o que vocês me deram. Foi o suficiente. O de mais que eu precisar,
ganharei por mim mesmo, de modo que agora vou deixa-los em paz.” Significa
ainda: “Recebo o que ganhei e, se deixo meus pais, continuo possuindo-os em
mim.”.
Num grupo, um médico muito
bem-sucedido perguntou: “Que devo fazer? Meus pais se metem nos meus assuntos o
tempo todo.” Eu lhe disse: “Eles tem o direito de meter o bedelho na sua vida
quando quiserem! E você tem o direito de ir em frente e fazer o que achar
melhor para você mesmo.”.
Filhos que não aceitam os pais
estão constantemente procurando compensar esse déficit. Frequentemente, a busca
de auto compreensão e iluminação não passa da busca de um pai ou mãe que ainda
não foi aceito. A procura de Deus às vezes cessa ou toma rumo diferente depois
de se aceitar um pai ou mãe. Muitas pessoas têm descoberto que sua “crise de
meia-idade” resolveu-se logo que conseguiram tomar um dos pais até aí
rejeitado.
Nossos pais nos dão a vida e são
os únicos capazes de fazer isso. Outras pessoas talvez deem alguma coisa além
disso. Estritamente falando, não recebemos a vida de nossos pais – ela nos vem
de longe por intermédio deles. Os pais são a nossa conexão com a fonte de vida,
com algo além das falhas que porventura tenham. Ligados a eles, encontramos
essa fonte mais profunda, que encerra muitas surpresas e mistérios. Uma coisa
bonita acontece quando as pessoas observam seus pais e reconhecem neles a doente
da vida. O amor exige que quem recebe reverencie o dom e o doador.
Quem ama e
honra a vida, implicitamente glorifica e ama quem a dispensa. Quem despreza ou
desmerece a vida, não a respeitando, amesquinha os que as dão. Quando as
pessoas recebem e reverenciam o dom e o doador, erguem bem alto o presente até
que rebrilhe; e, embora esse presente passe por meio delas àqueles que seguem,
o doador continua banhado em sua luz.
Quando sentimos que nossos pais
nos devem alguma coisa, temos a imagem do que possa ser. É a imagem do bom pai
ou da boa mãe. Aceitar os pais significa reservar a essas imagens benignas um
lugar em nossos corações e permitir que façam ali boas obras. Trata-se de uma
opção aberta à maioria das pessoas, mesmo quando foram feridas pelos pais. Aceitar
os pais não quer dizer negar as coisas negativas, mas permitir a nós mesmos
tocar as profundezas de seus corações, lá onde sofrem amargamente ao ver os
filhos às voltas com o mesmo padrão em que estiveram enredados. Quando as
pessoas conseguem atingir as profundezas do coração doa pais, estão mudadas e
mudam também os pais, por ressonância.
Sem dúvida, que tudo é mais fácil
quando nosso pai ou mãe realmente demonstra essa bondade, e a maioria deles de
vez em quando o faz. Porém, temos a possibilidade de contemplar os pais à luz
do contexto de seu destino. Percebemos seus fracassos, seus sofrimentos e
decepções, entregamo-los a seu fado para que lidem com ele como melhor
entenderem e reconhecemos o nosso lugar na hierarquia familiar. Para além
disto, atingimos o mistério mais amplo da vida, que flui através de nós."
Extraído de A Simetria Oculta do Amor, por Bert Hellinger
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