
A
constelação familiar tem sido utilizada como instrumento de cura para muitas
pessoas. Embora o próprio Bert Hellinger afirme que não se trata de ferramenta,
método, abordagem e muito menos terapia, é visível a eficácia terapêutica nas
pessoas que passam pelo processo da constelação. A partir do contato com a
filosofia sistêmica e o trabalho vivencial da constelação familiar, a pessoa
amplia a consciência a respeito de suas questões pessoais e muda a imagem
interna que possui sobre sua família e seu papel dentro desta família.
A Importância do Pai e da Mãe e as lições que vêm deles
A família tem sido alvo de estudos das mais diversas linhas: terapêutica, filosófica, religiosa, antropológica, etc. Diversas teorias surgiram ao longo destes anos, e algumas delas se contradizem, trazendo confusão e dúvidas. Uma coisa é certa: Pai e Mãe tem influência total sobre os filhos, seja consciente ou inconscientemente, através da estrutura psicológica, ou da genética.
Dentro
da visão sistêmica de Bert Hellinger, a questão “Pais” é muito simples: Eles
deram a vida a seus filhos. São as pessoas que a Vida (esta energia criadora da
qual ainda pouco se compreende) escolheu para que você recebesse um corpo físico
e pudesse realizar seu propósito na Terra. Portanto, todo o resto faz parte do
seu aprendizado, daquilo que você se propôs a aprender, realizar e cumprir.
Esta é ideia básica quando falamos em “pais e filhos” dentro da constelação
familiar.
“Ao
dar a vida aos filhos [...] os pais dão-lhes, com a vida, a si mesmos, tais
como são, sem acréscimo e sem exclusão. E por esta razão os filhos [...] não
somente têm os seus pais, mas eles são seus pais.” (Bert Hellinger, 2008, p.36)
Sophie
Hellinger fala em seus seminários sobre os “acordos” que se faz com os pais
antes de nascer. Por exemplo: se alguém se propõe a aprender a lidar com a
rejeição e se amar, talvez ela “faça um acordo” com a pessoa que será sua mãe, para
que esta a deixe num orfanato, ou que, de alguma forma não esteja presente em
sua vida. Este tipo de pensamento mostra
o quanto a constelação possui um caráter filosófico, aonde as ideias vão além
dos conceitos puramente materiais que a ciência atual pode explicar.
Se
continuar a seguir a linha de pensamento de Sophie, neste exemplo, esta mãe
cumpriu seu papel e, portanto, a pessoa abandonada pode ser grata a ela, pois
foi através deste “acordo cumprido” que pôde entrar em contato com as
experiências, mesmo dolorosas, que fizeram sua alma crescer e aprender a amar a
si mesmo, realizando assim o seu propósito.
Crianças Difíceis
“Nenhuma criança é difícil. O sistema é difícil. Algo em sua família
encontra-se fora de ordem”.

A
dinâmica oculta nas crianças difíceis é que quando um sistema familiar possui
uma carga opressiva, algo que os demais membros da família negam ou excluem,
esta criança, com um “amor cego” inclui novamente no sistema aquilo que foi
excluído por todos. O que ajuda os pais nesta situação? Quando reconhecem o seu
destino e também o destino do filho como um movimento da consciência sistêmica que
os conduz. Este destino é mais do que um destino apenas individual e pessoal.
Vai muito além da família em questão, alcançando assim também o seu entorno,
atuando de modo curativo. Torna-os modestos e humildes, envolvendo-os com uma
solidariedade amorosa e humana.
Pai Ausente e suas consequências
“Se eu como filho não posso tomar meu pai, então estarei perdido e não
poderei sustentar nenhuma relação duradoura, nem alcançar o êxito.” Bert
Hellinger
Atualmente
se fala muito a respeito do “Pai Ausente”: aquele que abandona a mãe com o
filho e nunca mais volta; ou então, o que se separou da mãe e constituiu nova
família; ou ainda o “pai ausente” porque não assumiu o filho. E por aí segue.
Porém, se verificar a história da humanidade, a ausência da figura paterna é
muito antiga, apenas mudando o enredo.
Esta
é uma geração pós-guerra, com netos e talvez bisnetos dos guerrilheiros.
Quantos homens foram perdidos na guerra? Quantos pais ausentes? E os filhos que
ficaram sem estes pais não puderam muitas vezes nem chorar esta perda, porque
eles tinham que trabalhar para comer, ajudar a mãe, os irmãos, ou mesmo fugir
para sobreviver. Esses mesmos “filhos sem pai” agora se tornaram pais, mas,
inconscientemente não olham para seus filhos, porque sua alma ainda busca pelo
pai perdido. Assim o ciclo de Pai Ausente se perpetua e se repete nas gerações.
Bert Hellinger vai além da história, ele questiona: “quem é a pessoa mais
excluída nas famílias? O pai”.
Dentro
do trabalho das constelações, o Pai é aquele que direciona o filho para o
mundo. Enquanto a mãe traz o alimento, a nutrição, o amor; o pai é o sucesso,
realização, plenitude, autoridade, firmeza, é o “não” que muitas vezes é
difícil de dizer, é independência. Sua ausência pode causar vários emaranhados
sistêmicos, porém os principais estão relacionados aos vícios de todos os tipos.
Inclusive Bert diz que aqueles profissionais que trabalham em organizações de
ajuda a adictos, somente podem auxiliar quando dentro de si, a figura pai está
resolvida.
O que faz os filhos felizes?
Bert
Hellinger responde: “Quando os pais são felizes com os filhos. E como isso
acontece? Quando no filho respeitam, amam e concordam com o outro membro do
casal. Se fala muito de amor, mas qual é modo mais bonito de amar? Quando me
alegro com o outro exatamente como ele é”.
O
seu amor ao filho como pais apenas continua e coroa seu amor como casal, porque
este vem antes daquele. Então quando o
amor recíproco dos parceiros flui do fundo do coração, também flui do fundo do
coração o seu amor de pais pelo filho. Tudo o que o homem e a mulher admiram e
amam em si mesmos e no parceiro, também admiram e amam nos filhos. E tudo que
os irrita e incomoda em si mesmos e no parceiro, também os irrita e incomoda no
filho. (Bert Hellinger, 2008, p.43)
Se
um dos pais passar, direta ou indiretamente, esta mensagem ao filho: “não seja
como seu pai/mãe”, o filho em geral seguirá este genitor excluído, como uma
lealdade sistêmica. Isso se demonstra muitas vezes quando o filho repete
comportamentos do genitor excluído. Por exemplo, se a mulher se casa com um
homem alcóolatra, e esta teme que seu filho se torne igual ao pai, qual seria a
solução? Olhar internamente para este filho e dizer: “aceito que você se torne
alcóolatra como seu pai”.
Movimento Interrompido aos Pais
Em
muitas famílias a criança é separada precocemente da mãe, quando, por exemplo,
precisa ir ao hospital e a mãe não pode visitá-la. Às vezes também ocorre uma
separação imediatamente após o nascimento, quando, por exemplo, a criança nasce
prematura e precisa ficar na incubadora. No caso de cesariana ocorre igualmente
uma separação precoce.
A
criança sente a separação como uma grande dor. Ela se modifica após este
evento, pois a dor se transforma em raiva ou desespero. Quando a mãe retorna, a
criança afasta a mãe de si, pois se lembra da dor que sentiu. Assim, talvez, a
mãe acredite ter falhado de algum modo e igualmente se retrai. Desta forma, os
dois permanecem separados.
Tal
fato pode ter influência ao longo da vida. Quando ocorreu um movimento
interrompido, principalmente em relação à mãe, por vezes também em relação ao
pai, mais tarde a criança não se aproxima mais das outras pessoas. Sente medo
da proximidade. Sempre que se aproxima de alguém se lembra da dor passada e
interrompe o movimento de aproximação. Retrai-se, dá um passo para o lado,
afasta-se, volta para o ponto de partida sem realmente ir adiante ou se
aproximar.
Qual a solução neste caso? Retorna-se para a situação onde o movimento foi interrompido e o conclui. Isso pode acontecer através de um representante para esta mãe. Este representante (que pode ser um terapeuta) recebe a criança em seus braços e não larga. Quando ele desejar afastar-se, o representante o segura ainda mais forte, até que se acalme e relaxe em seus braços. Existe um trabalho chamado "abraço de contenção", onde o objetivo é muito semelhante. Muitas crianças hiperativas se tornam mais tranquilas com o abraço e contenção.
Referências Bibliográficas
HELLINGER, Bert. O Amor do Espírito. Goiânia: Atman,
2008
HELLINGER, Bert. As Ordens do Amor. São Paulo: Cultrix,
2001
HELLINGER, Bert. A Simetria Oculta do Amor. São Paulo: Cultrix,
1998
HELLINGER, Bert. Felicidad que Permanece. Barcelona: Rigden Institut Gestalt, 2006
HERMOSILLO, Rosa Doring. Constelaciones Familiares y Abrazo de Constención. México:
Gudiño Cícero S.A., 2007
RUPERT, Franz. Simbiose e Autonomia nos Relacionamentos.
São Paulo: Cultrix, 2010