Parece mágica, em uma sessão você
muda sua vida! É uma terapia milagrosa!
Sim, esse é um dos “slogans” que
vi por aí ao divulgar o trabalho da constelação familiar. E confesso que me
preocupo com o que está sendo difundido a respeito de um trabalho tão sério,
profundo e que levou muito tempo para se estruturar.
Vamos por partes!
Trabalho com terapias há muitos
anos, em sua maioria, na linha das terapias alternativas, e com a constelação
pouco mais de seis anos. Porém nos últimos dois, teve um “boom” nas
constelações: mais divulgação, mais demanda, e consequentemente mais oferta e é
aí que quero chegar: como está a qualidade e a veracidade dessa oferta, afinal
assim como se multiplicaram os profissionais oferecendo a abordagem, também
cursos e formações duvidosas se espalharam feito pólvora, levando a “slogans”
como esse.

O próprio criador da
constelação, Bert Hellinger, em seus mais diversos livros e palestras fala que
aqui se trata de um caminho do conhecimento (mais tarde escreverei sobre isso
de forma profunda). Porém, não é o que está sendo
difundido por aí. Propagandas de que a constelação é uma terapia rápida e que
traz soluções milagrosas tem surtido um efeito negativo, e confesso que me
perturba um pouco.
Primeiro porque não vejo a constelação como terapia, ela está
mais para uma filosofia aplicada do que terapia em si. Isso se mostra, ao ver
que não há necessidade de ser um terapeuta ou psicólogo para ser constelador.
Pelo contrário, no Brasil, por exemplo, a constelação vem ganhando força no
meio jurídico, onde advogados, juízes e outros do ramo estão usando a abordagem
com sucesso em mediações.
Além do que, para entrar nessa caracterização,
haveria a necessidade de sessões semanais ou sequenciais como toda terapia
exige. E a constelação não funciona assim. Você faz uma constelação e não volta
a falar com o constelador para “analisar” sua constelação. Eu observo muitas
vezes que quando se constela, existe sim efeitos terapêuticos, ou seja, a
pessoa se sente melhor, mas não significa que seja terapia. A abordagem em sua
origem e desenvolvimento, possui ferramentas que foram agregadas de processos
terapêuticos como a análise transacional, técnicas de PNL, psicanálise, terapia
primal, e talvez por isso a confusão.
Uma pessoa me disse uma vez que
falar que a constelação é terapia fica mais fácil para o outro entender. Bom, aí é
de cada um, mas eu prefiro esclarecer as coisas. Explicar constelação é muito
desafiador, eu ainda tenho certa dificuldade, pois, é um processo profundo,
filosófico e sensorial, é experiência. Não tem como explicar experiência,
afinal cada ser humano vivencia uma experiência de forma diferente.
O que é
possível explicar é o processo de constelar, o método em si, mas constelação
como filosofia, assim como os temas que ela aborda, levaria muito tempo mesmo.
Entendo que em poucos minutos com um cliente novo, ou com alguém que não conhece
nada é desafiador sim. Nesses casos, convido a pessoa à experimentar estar num
grupo de constelação. E a teoria buscar em livros, artigos, cursos, palestras.
Eu vi muitos casos onde a pessoa constelou uma questão e teve uma sacada tão grande, posso até
arriscar a dizer, uma cura tão grande, que eu
fiquei encantada com a benção que essa pessoa recebeu. Mas, não é sempre
assim. Quando as pessoas me procuram pela constelação, eu sempre oriento que
não sei qual será o efeito da constelação.
Essa semana eu recebi uma mensagem
de alguém que constelou algo e que afirmou que “nada resolveu” e estava muito
brava dizendo o quanto tudo isso era uma farsa. Quando recebo esse tipo de
feedback, me questiono o que foi “vendido” para ela, como foi ofertado o
trabalho da constelação, para que essa pessoa tivesse uma expectativa tão alta
a respeito de uma possível resolução?
E ao me questionar isso, me vem à mente a
informação de que a grande maioria das pessoas não querem assumir a
responsabilidade pela sua vida, história, decisões (conscientes ou não) e pela
sua mudança. Elas esperam sempre que o mundo vai mudar, as pessoas precisam
mudar, e o terapeuta, o constelador, o psicólogo, o médico, o remédio vai ser a
cura milagrosa para não precisar assumir a sua responsabilidade.
Tenho um grupo de amigos que são
facilitadores de constelação, além de excelentes terapeutas em diversas áreas,
e temos uma dúvida (quase uma brincadeira) interna: há anos nesse CAMINHO das
constelações, já constelamos dezenas de vezes e ainda precisamos constelar
temas, curar feridas, aceitar pessoas que julgamos e excluímos, assumir cada
vez mais nossa responsabilidade diante da vida. O que falar para aqueles que nos
procuram com a seguinte pergunta: “uma constelação é suficiente para resolver
meu problema?”
Bom, a resposta é simples: Não sei se uma constelação é suficiente. Posso dizer que a constelação é um caminho, talvez o início de um caminho,
onde pode haver apenas um pequeno passo em direção a uma solução ou talvez já seja o
caminho todo. Cada um sabe o que é melhor e o que é suficiente.
Uma coisa é
certa: estamos todos aqui para nos desenvolvermos e nada melhor que as maiores
lições de alma estejam justamente no seio familiar, afinal, mesmo que não
tenhamos convívio social com os membros de nossa família, carregamos suas memórias
em nossas células. Herdamos isso. Queiramos ou não, gostemos ou não, está tudo
em nós.
Mas se você escolher o caminho
das constelações familiares, saiba que profundas mudanças poderão acontecer
sim. Profundas não é o mesmo que rápidas.
Aline Charane