terça-feira, 13 de abril de 2021

Exercício Sistêmico - LIBERAÇÃO PARCEIROS ANTERIORES

 

O que é um exercício sistêmico?

São pequenos impulsos de cura que você realiza através de movimentos simples, mas profundos, da mesma forma que ocorre numa constelação familiar. A diferença é que você pode fazê-los sozinho, com o auxílio de objetos, para o início de sua cura sistêmica.

 

Que material usar?

Para isso se utiliza objetos para representar os elementos importantes do seu sistema familiar, dependendo de cada tema que você quer trabalhar. Pode ser qualquer objeto: papel, lápis, almofada, o que você tiver na mão.

Exemplo: Um lápis irá representar VOCÊ, uma almofada irá representar PROFISSÃO, e assim por diante.

 

Onde realizar?

Preferencialmente num lugar calmo, onde você não será interrompido e que se sinta totalmente à vontade para dar vazão aos seus sentimentos, caso surja alguma liberação emocional.

 

Como realizar o exercício?

Os objetos escolhidos são posicionados aleatoriamente no chão. Não há regras para a colocação desses objetos. Ao colocar cada um no chão, diga o que ele irá representar conforme a sugestão do exercício. Exemplo: “Esse objeto representa DINHEIRO”. Após o posicionamento dos objetos,  respire fundo, solte os braços, permaneça de olhos abertos, pensamentos soltos e relaxados, porém sem fixar em nada. E nessa postura relaxada, se posicione acima ou ao lado dos objetos. E aguarde. Fique ao lado de cada objeto por mais ou menos dois minutos, depois mude de objeto e permaneça mais dois minutos e assim por diante até passar por todos.

 

O que devo fazer durante o exercício?

Em cada representação apenas perceba seu corpo. Ele apresentará alguns movimentos lentos e sutis, como por exemplo: rigidez, congelamento, moleza nas pernas, vontade de sair do lugar ou se deitar, olhar fixo em alguma direção, vontade de rir ou chorar, mãos frias, formigamento, tremor, etc. Esses movimentos são informações daquilo que o objeto está representando e estão ligadas diretamente ao seu sistema familiar. Cada movimento possui um significado, porém não é tão relevante analisá-los. Como o processo é sensorial, o mais importante é a percepção das sensações corporais e a permissão a tudo que acontecer em seu corpo. Na medida que você se permite sentir, a cura começa a acontecer dentro de você num nível profundo e sistêmico.

 

Frases Sanadoras

Cada exercício terá como sugestão de liberação a fala em voz alta de algumas frases sanadoras. Após a primeira rodada ao lado de cada objeto, passe novamente por cada um e perceba quais frases você tem vontade de falar e se há mudança no seu corpo ao dizê-las. Essas frases têm como base, as Ordens do Amor de Bert Hellinger e possuem a força necessária para liberação sistêmica. Portanto, se não tiver experiência como constelador ou conhecimento a respeito das ordens, apenas repita as frases sugeridas em cada exercício e evite criar outras frases. Mesmo que tenha vontade de falar algo mais. Nesse caso, o menos é mais.

 

Encerramento do Exercício

Faça umas três rodadas em cada objeto sempre percebendo seu corpo e permitindo sentir. Não irá levar mais que dez minutos. Após essas rodadas você pode recolher os objetos e voltar às suas atividades. Sempre inicie e termine pelo objeto que representa VOCÊ.

 

EXERCÍCIO: Liberação dos Parceiros Anteriores

3 Representantes: - Você – Parceiro Anterior – Luto da Separação

Objetivo: Soltar os emaranhados sistêmicos que impedem que você se despeça dessa pessoa.


IMPORTANTE:

- Leia o significado do movimento antes ou depois da realização do movimento e NUNCA durante o exercício. Mais importante do que saber o que significa cada movimento, é você se render a ele, confiar em seu corpo, pois a constelação é um processo que ocorre na alma e não na cabeça.

- Os movimentos aqui descritos são uma POSSIBILIDADE de emaranhado. Portanto, as ideias que compartilho abaixo não são regras.  A ideia aqui não é cristalizar o processo, pelo contrário. Trata-se apenas de observações de dinâmicas inconscientes que mais aparecem durante as constelações.


Possíveis movimentos durante o exercício (lembrando que pode ocorrer outros movimentos):

NO REPRESENTANTE VOCÊ: Nessa posição, perceba para onde você olha, se tem vontade de se aproximar ou se afastar do representante do PARCEIRO ANTERIOR ou do representante do LUTO. Ou se nenhum deles chama sua atenção e você olha para outro lugar.

Se seu olhar for para o chão, ou sentir que o corpo enfraquece a ponto de querer se deitar ou se sentar, pode ser informações de emaranhado com mortos do seu sistema (abortos, crianças, outros mortos excluídos ou esquecidos). Coloque outros objetos nesse lugar para representar esses mortos, mesmo que não saiba quem são.

Se seu olhar for para frente, porém, mais distante, ou a visão ficar turva, pode ser emaranhado com excluídos, rejeitados ou esquecidos do seu sistema (não necessariamente mortos). Coloque objetos nesse local, mesmo que não saiba a quem se refere.

Se seu olhar for para o PARCEIRO ANTERIOR, e suas mãos se fecham, com os punhos cerrados, pode significar que você ainda tenha raiva dessa pessoa. Se seus braços ficarem cruzados na frente de corpo, pode significar que você ainda possui exigências para com essa pessoa. Talvez na sua ideia ela tenha causado algum dano que ainda não foi reparado (o mesmo vale para as mãos na cintura). Você pode chorar, o que significa que ainda tem dor. Se tiver um riso, e este for muito histérico, pode significar falta de respeito com essa pessoa. Caso seu corpo se eleve a ponto de querer ficar na ponta dos pés, pode significar que você está numa postura de superioridade diante dele. Caso esteja sentada, pode significar que você está numa postura de criança diante dessa pessoa. Se as mãos suarem ou ficarem quentes demais, pode ser informação de culpa por algum dano que você tenha causado a essa pessoa.

Se você se aproximar do representante do LUTO, pode significar que ao se separar dessa pessoa, algo ainda ficou pendente dentro de você a respeito do luto. Precisa perceber em qual fase do luto você congelou e dar vazão a esses sentimentos (raiva, tristeza, negação, barganha).

NO RERPRESENTANTE LUTO: Nessa posição, perceba para onde você olha, se tem vontade de se aproximar ou se afastar do representante do PARCEIRO ANTERIOR ou do representante de VOCÊ. Ou se nenhum deles chama sua atenção e você olha para outro lugar. Podem ocorrer movimentos semelhantes aos mencionados acima. O significado deles é o mesmo.

Nessa posição geralmente você sente dores físicas, emocionais, o que pode significar que o luto da separação ainda não foi vivido completamente. A solução é dar vazão às sensações e sentimentos sem se vitimizar mais.

Se, nessa posição, você estiver bem ao olhar para o PARCEIRO ANTERIOR e para VOCÊ, significa que o luto foi completado.

* Caso tenham tido filhos que não nasceram, ou que morreram é importante chorar esse luto juntos. Se isso não foi possível na época, pode fazê-lo agora, através desse mesmo exercício. Basta adicionar um representante para o Luto da Criança.

NO REPRESENTANTE PARCEIRO ANTERIOR: Todos os movimentos descritos no representante VOCÊ, pode acontecer também nessa posição. E seu significado é o mesmo.

 

Possíveis Frases Sanadoras (perceba onde as frases se encaixam):


IMPORTANTE: As frases sanadoras devem ser ditas UNICAMENTE quando você estiver no representante de si mesmo, ou seja, na posição: VOCÊ. Nunca diga frases em outras posições que não seja a sua. Se você é constelador, pode falar outras frases que sentir, desde que, estejam em ressonância com as Ordens do Amor.

Aos mortos: “Vejo todos vocês”; “Honro e respeito seu destino”; “Abençoe-me se faço um pouco diferente de vocês e tomo a vida”; “Olhe com carinho para mim e para meus descentes”; “Eu por mim, você por você”; “Tudo já foi pago, compensado, agora sigo para vida”; “Já paguei por tudo, todos nós perdemos, agora escolho a vida”; “Você sempre fará parte do nosso sistema”; “Mesmo que você parta, eu fico vivo”.

Aos Excluídos/Esquecidos ou Rejeitados: “Vejo todos vocês”; “Honro e respeito seu destino”; “Abençoe-me se faço um pouco diferente de vocês e tomo a vida”; “Olhe com carinho para mim e para meus descentes”; “Eu por mim, você por você”; “Tudo já foi pago, compensado, agora sigo para vida”; “Já paguei por tudo, todos nós perdemos, agora escolho a vida”; “Você sempre fará parte do nosso sistema”; “Devolvo a sua dignidade”.

Ao Parceiro Anterior: “Assumo minha parte de responsabilidade e deixo a sua com você”; “Nosso amor pode durar e se transformar”; “Obrigada por fazer parte da minha vida”; “Eu libero você de mim”; “Agora sou eu por mim e você por você”; “Reconheço os danos que eu te causei e já paguei um alto preço por isso”; “Você sempre fará parte do meu sistema, obrigado”.

Ao Luto: “Obrigado por me mostrar”; “Agora te dou permissão”; “É seguro sentir”; “Eu te vejo”; “Você também faz parte”.

Se sentir que ainda tem algo que precise ser liberado ou curado, procure um constelador de sua confiança, para lhe auxiliar na liberação e cura sistêmica.


*Se for compartilhar esse texto, cite sempre a Fonte. Plágio é crime!

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Dinâmicas Ocultas das Enfermidades



que essas frases têm em comum?

São dinâmicas sistêmicas ocultas por trás das enfermidades.

Vem comigo, que te explico!

Já compartilhei com vocês por aqui a explicação básica de como as forças do coletivo familiar, ou seja, do que acontece na nossa família, nos influencia diretamente de forma inconsciente. 

E com as enfermidades não é diferente.

Vamos a primeira frase: “Eu sigo você”

Imagina que uma mãe tem dois filhos, porém o primeiro filho nasceu morto, ou faleceu ainda criança. Parte da alma (ou do Eu, como queira chamar), dessa mãe, permanece lá com o filho. Isso acontece por muitos fatores, mas o principal deles é a dificuldade em aceitar a morte e viver o luto por completo. Bem, essa mãe tem um segundo filho, e a alma desta criança sente, inconscientemente, que parte de sua mãe está lá no “mundo dos mortos”, metaforicamente falando. Onde você acha que o segundo filho vai para encontrar a mãe? Sim, lá na morte; ele diz internamente: “Sigo você na morte mamãe”. E desenvolve uma doença… Doenças entram aqui, como movimentos de “não vida” ok?

Continuando no mesmo exemplo, para vocês perceberem como os emaranhados sistêmicos podem ser mais complexos do que vocês imaginam.

Essa mesma mãe, estando com uma parte sua lá com o filho falecido, desenvolve também uma doença qualquer (depressão, por exemplo). Ou seja, viver é muito difícil (isso pode ser consciente ou não), e aqui se encontram novamente o movimento de não vida que falei ali em cima.

Esse segundo filho, então olha novamente para sua mãe e diz de novo: “Vou no teu lugar mamãe” – terceira frase da foto – ou diz: “Antes eu que você mamãe”. E sua doença se agrava.

O que vemos aqui? O que nós chamamos nas constelações familiares de Amor Cego, ou Amor que Adoece. A criança tem um amor profundo pela mãe. Quando falo “criança” quero dizer “descendente”, pois esse filho pode ter 30 anos e estar no mesmo enredo.

Esse filho pode também desenvolver vícios, autossabotagem em questões de relacionamento ou finanças, mas é bem comum vermos as dinâmicas em enfermidades.

Veja quando falo enfermidades, não precisa necessariamente ser doenças mesmo. Pode ser, por exemplo, uma autossabotagem na alimentação, a pessoa se alimenta mal, ou ingere coisas que fazem mal ao seu corpo. Vícios, tudo que tem a ver com menos vida.

Uma outra dinâmica muito comum em casos de enfermidades é a frase: “Pago por você”.

Parece forte numa primeira leitura, e de fato, é algo mais complexo. Vou dar um exemplo: seu avô comandou a morte de vários escravos e coo na época isso era comum, ele não achou que estava fazendo nada de errado, não se arrependeu e muito menos compensou algo por isso. As forças sistêmicas coletivas que atuam sobre a ordem dos acontecimentos, encontra uma forma de compensar o fato. Escolhe um descendente, alguém que tenha muito amor no coração para “compensar no lugar do avô”. E o neto diz internamente: “Vovô eu pago no seu lugar” e desenvolve fibromialgia (é só um exemplo, pode ser qualquer doença!).

E assim segue os emaranhados sistêmicos.

Por isso é muito legal constelar qualquer tipo de enfermidade, seja ela física ou mental. Eu já presenciei casos onde a pessoa tinha uma doença incurável e depois da constelação, encontrou um tratamento novo, onde a possibilitava viver de uma forma mais tranquila. Não houve cura, mas sim, uma possibilidade de mais vida.

O que quero dizer: às vezes tratamos algo em nosso corpo, melhoramos e logo em seguida adoecemos de novo.

Saiba que não é natural ficarmos doentes. Natural é envelhecermos. Mas se temos episódios recorrentes de enfermidades, talvez tenham outras coisas agindo aí.

Texto de Aline Charane
Se for compartilhar, por favor cite a fonte.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Os animais de estimação e a constelação familiar



Há algum tempo, várias pessoas me pedem para falar sobre o papel sistêmico dos animais de estimação e nas nossas vidas.

Não existe muita literatura sobre o tema.

O que vou compartilhar são minhas experiências como consteladora e como aluna (dentro de vários seminários e cursos que participei).

Não sei se todos sabem, mas existe uma força inconsciente, que, na constelação familiar, chamamos de consciência coletiva ou grande alma familiar, que atua de forma oculta nos membros de um sistema familiar. Essa força zela pelo equilíbrio de 3 leis sistêmicas que Bert Hellinger chama de Ordens do Amor.

O importante aqui é saber que além de seus desejos e vontades pessoais, da sua consciência pessoal (EU), existe uma força coletiva que também influencia na sua vida, ok?

Como ela atua? Basicamente, ela escolhe descendentes, ou pessoas que entraram por último em um sistema familiar (consciência coletiva) para “resolver” as desordens das leis que mencionei acima.

Por exemplo, um luto não vivido na geração dos avós, pode ser sentida através de seus netos. É como se os netos vivessem um estado emocional semelhante a um luto, porém sem ser proveniente de uma perda atual. E isso ocorre porque para a consciência coletiva, o todo é mais importante do que os indivíduos. Então, para essa consciência não há problema nenhum em você sentir aquilo que seus avós negaram, para que o equilíbrio volte a reinar no grupo.

E onde os nossos queridos bichanos entram?

Eles entram na função semelhante aos descendentes. Identificam-se com algo que aconteceu lá atrás, e tenta resolver para você. Ao invés de você se identificar com a desordem, seu bichinho o faz. Tudo de forma inconsciente.

Um bom exemplo é a quantidade de bichanos doentes. Uma doença que poderia ter acontecido com você, mas de alguma forma, seu animal de estimação disse inconscientemente para você: “deixa que eu cuido disso.” E a doença de manifesta como uma forma de compensar a desordem sistêmica familiar. Talvez, se você tivesse um filho, poderia ser seu filho dizendo internamente essa frase (descendente).

É comum me procurarem para constelar questões de animais de estimação. Por exemplo, doenças e mortes. E existem muitas dinâmicas atrás de tudo isso. Uma vez constelei uma moça que tinha um cachorro que estava com câncer no intestino. No meio da constelação, o representante do cão se identificou com o representante do marido dela. Ela me olhou e disse: “meu marido está com câncer de intestino e não estou dando conta da situação”.

Outra vez constelei uma pessoa que perdeu 3 cães. E ela não estava sabendo lidar com a morte deles. Durante a constelação o representante da morte dos cães olhava para o pai da cliente, enquanto que a representante da cliente não olhava. Então perguntei o que havia com ele. Ela respondeu que ele tinha uma doença degenerativa sem cura e que era muito difcífil até mesmo ela visitar o pai. Com o final da constelação, ela entendeu que os cães que morriam precocemente só estavam querendo ajudá-la a olhar para morte do pai de um jeito diferente, sem temor. E quem sabe assim, apreveitar o tempo que resta com ele.

Lembro-me de uma cliente que não conseguia engravidar. Tinha feito todos os exames e tratamentos, inclusive fertilização in vitro, porém nada de ter seu bebê. Meses depois ela apareceu no grupo contando que tinha ganhado um cachorro. Até aí tudo bem. Depois de um tempo ela chegava no grupo falando do seu “filho”, e nas próprias redes sociais, postava a foto do “filho” comendo, brincando, dormindo com seus pais… Na verdade o cachorro substituiu o filho, e era tratado como uma criança. O cão não estava livre para ser apenas o amigo, o cão, ele estava à serviço desse casal, e talvez de outras dinâmicas ocultas desse sistema; ligado à crianças.

Eu tinha uma tia que cuidava de mais de 30 cachorros. Todos que passavam na casa dela deixavam um cão no seu quintal e ela foi adotando todos. Durante muito tempo eu me perguntava, quem esses cães representavam da nossa família? O que aconteceu lá trás, que eles surgiram dessa forma na vida dela.

Os nossos animais de estimação estão à serviço de nosso sistema familiar, ou seja, eles querem ajudar a arrumar a bagunça da casa. E quanto mais tratamos um animal como “gente” mais ele se identifica com uma pessoa. Isso é muito real. Pode ser uma criança, um bebê, ou outra pessoa do sistema. Isso significa que ele não está livre para ser quem ele é: um cão, um gato, um peixe…

Perceba como você trata seu bichinho, o que ele desperta em você, e quais são as dinâmicas emocionais e comportamentais (além de físicas) que ele manifesta. Pode ser grandes informações pedindo por cura e integração e aí cabe a você, como um adulto, tomar a decisão interna de cuidar desses assuntos e deixar seu bichinho livre.

Se você for compartilhar o texto, por favor, cite a fonte.

Grata
Aline



terça-feira, 23 de abril de 2019

5 frases muito comuns que revelam um trauma de infância que não foi superado

Traumas de infância são muito mais comuns do que gostaríamos de acreditar.

traumas-de-infancia.jpg (1000×525)Uma série de estudos realizados por psicólogos da Duke University Medical School revelou que 78% das crianças relataram ter experimentado mais de uma experiência traumática antes dos 5 anos de idade. A partir dos 6 anos, 20% relataram experiências traumáticas, variando desde abuso sexual a negligência emocional, exposição a violência doméstica e perda traumática.
Pessoas que sofreram um trauma de infância também podem vir a desenvolver um transtorno de estresse pós-traumático complexo (PTSD-C), um problema caracterizado por dificuldades na regulação emocional, percepções distorcidas de abuso, dificuldades nas relações interpessoais e somatização.
No entanto, muitas vezes essas pessoas não estão conscientes de que têm um problema cuja origem se volta para a infância. Eles acreditam que deixaram seu passado para trás, mas isso os persegue inconscientemente.

Como um trauma da infância influencia na formação da identidade?


A formação de identidade é um processo complexo que ocorre ao longo da vida. A construção da identidade, incluindo o sentimento de ser suficientemente bom, a capacidade de integrar harmoniosamente emoção e razão, a consciência básica do estado emocional, sentir-se seguro e saber quem somos realmente, é afetada pelos traumas de infância. O que acontece é que a sobrevivência básica prevalece sobre o desenvolvimento equilibrado do “eu”.
Um trauma em tenra idade pode mudar o desenvolvimento do cérebro. De fato, sabe-se que um ambiente onde prevalece o medo e a negligência gera diferentes adaptações dos circuitos cerebrais, em comparação com um ambiente onde a criança se sente segura, protegida e amada. E o pior é que, quanto mais cedo essa angústia for vivenciada, mais os efeitos serão profundos e duradouros.
Portanto, muitas vezes a identidade de um adulto que sofreu traumas de infância está organizada em torno da necessidade de sobreviver e alcançar um nível básico de segurança em suas relações com os outros. Isso o leva a um ciclo vicioso no qual, por um lado, revive experiências desencorajadoras e traumáticas e, por outro lado, tende a evitar experiências orientadas para o crescimento.
Pessoas nessa situação identificam-se muito com um “eu traumático”, à custa de um sentido mais inclusivo e flexível de si mesmas. Eles se desprendem do seu ambiente e de si mesmos desde o início, como um mecanismo de sobrevivência, e podem permanecer desconectados de si mesmos durante a infância, adolescência e até mesmo na vida adulta, depois de saírem do ambiente tóxico. Na prática, eles continuam experimentando a necessidade de sobrevivência.

As frases que escondem uma “identidade traumática”

1. Perda da infância – “Eu não tive uma infância”

Quando as pessoas vivem uma infância particularmente angustiante, é bem comum que elas não consigam se lembrar dos primeiros anos de vida. Essas pessoas costumam dizer “eu não tive uma infância” ou “não me lembro muito de quando era criança”.
Eles podem se lembrar de alguns momentos particularmente vívidos, que são conhecidos como “memórias flash”, mas esses momentos não têm contexto, portanto não fazem muito sentido para a pessoa. É comum que não tenham uma história muito clara de si mesmos como crianças, até chegarem à adolescência ou até mesmo ao início da idade adulta.
No sentido autobiográfico, eles não têm o que é chamado de “narrativa coerente”, não conseguem falar sobre a sua história de vida seguindo um fio lógico. Na verdade, muitas pessoas até afirmam que sentem que sua infância foi roubada. E sem esse fundamento, a identidade do adulto está seriamente comprometida.

2. Perdeu parte de si mesmo – “Sinto que perdi alguma coisa”

Devido aos traumas de infância, as crianças geralmente reagem se desconectando de partes importantes de si mesmas para sobreviver, é um tipo de mecanismo de dissociação. Essas pessoas costumam dizer: “Sempre senti que falta algo, mas não sei o que é”.
O problema é que eles tendem a se desconectar de áreas sensíveis, ao mesmo tempo em que reforçam outras esferas, como uma medida de compensação para escapar do sofrimento emocional. Desta forma, uma criança com problemas em casa pode tentar se tornar um estudante modelo.
Mais tarde na vida, você pode descobrir que tem grandes habilidades em certas esferas enquanto outras permanecem completamente esquecidas, geralmente são aquelas ligadas a emoções, autoconhecimento e relações interpessoais.

3. Evitar-se – “Eu me sinto mal quando penso em mim mesmo”

Muitas das pessoas que sofreram traumas de infância dizem: “Eu não gosto de pensar em mim mesmo, isso só me faz sentir mal”. Esse sentimento é particularmente intenso quando o trauma está relacionado a pessoas importantes e importantes em sua vida, como pais ou irmãos.
O problema é que o exercício da introspecção, o ato de se aprofundar em si mesmo, torna-se um lembrete dessas experiências dolorosas, o que implica numa reconstrução da própria identidade, e muitas vezes é muito mais fácil escapar de si mesmo do que enfrentar problemas tão profundos.
Essas pessoas podem aprender a viver desconectadas de seu “eu”, mas isso geralmente os leva a comportamentos autodestrutivos ou à profunda insatisfação, porque eles realmente não sabem o que querem ou não conseguem construir um projeto de vida.

4. Relações destrutivas – “Sinto atração por pessoas que não me adequam”

Não é incomum que pessoas traumatizadas por seus pais ou cuidadores acabem estabelecendo amizades, relacionamentos românticos ou até mesmo vínculos de trabalho, que não são bons para eles. Eles costumam dizer frases como “Eu atraio pessoas que não me convém” ou “Eu tenho um ímã para pessoas que me machucam”.
O problema é que essas pessoas encontram pessoas que se encaixam na sua identidade traumática, mesmo que se esforcem para tomar decisões diferentes ou para que os outros o alertem que esses relacionamentos não sejam benéficos. Isso gera um ciclo vicioso de re-traumatização através da repetição do passado.
Como resultado, eles podem acabar cercados por pessoas emocionalmente indisponíveis, abusivas ou narcisistas, ou acabar tentando resgatar e “consertar” essas pessoas, assumindo o papel de “salvador“. É óbvio que essas pessoas querem encontrar alguém que possa proporcionar-lhes a estabilidade emocional que eles precisam, mas inconscientemente sentem uma “química” poderosa para o perfil do abusador psicológico .
Os traumas contínuos e os enganos, levam-nos a pensar que ” é melhor estar sozinho”. O despertar de relacionamentos destrutivos levou-os a assumir uma imagem pessimista dos outros, acreditando que eles sempre os ferirão.

5. Desconexão emocional da identidade – “As emoções são um obstáculo”

Quando os sentimentos não têm lugar na família de origem, as emoções são separadas da identidade. Se uma pessoa cresceu com frases como “chorar é para os fracos”, ou foi punido ou repreendido cada vez que expressou suas emoções, ela não poderá desenvolver um vínculo saudável com essa parte de seu “eu”.
As emoções continuarão presentes, embora muitas pessoas se apeguem à crença de que “não são emocionais”, ou de que “as emoções são apenas um incômodo”. É por isso que as emoções acabarão gerando confusão e caos, uma vez que essa pessoa não será capaz de reconhecê-las e gerenciá-las de forma assertiva, já que só aprendeu a escondê-las e reprimi-las.
O problema é que precisamos das emoções até mesmo para tomar decisões na vida. A desregulação emocional nos desconecta da nossa intuição, e pode nos levar a tomar decisões impulsivas e a prejudicar nossas relações com os outros.
Outros podem descrever um sentimento de anestesia emocional, uma vez que só conseguem experimentar uma gama limitada de emoções. Na verdade, muitas vezes apenas se referem a emoções vagas, como a frustração e o tédio, porque não aprenderam a reconhecer seus estados emocionais. Também é comum bloquear sensações como a insatisfação, até ampliar, como uma explosão de raiva contida.
Sem dúvida, as conseqüências dos traumas de infância na idade adulta são desencorajadoras. No entanto, a pessoa pode reconstruir sua identidade e refazer esse “eu” traumatizado. Isso implica em voltar ao passado para aceitar essas experiências dolorosas, para que elas possam ser integradas na história de vida e serem superadas.
Existem duas chaves fundamentais:
1. Compreender que agora estamos seguros e que não somos mais aquela criança assustada e,
2. Suponhamos que, apesar de sermos adultos, é provável que continuemos a processar emocionalmente as experiências traumáticas como crianças. Perceber e assumir essas realidades é muitas vezes libertador.
Lembre-se de que sempre é possível reconectar-se consigo mesmo, mesmo que seja necessário remover várias camadas para reconstruir uma identidade mais saudável. Sem dúvida, é um processo difícil, e pode ser necessário recorrer à ajuda de um psicólogo, mas investir em si mesmo é o melhor que você pode fazer. Não é necessário continuar carregando o fardo do passado, de um modo que ele limite o seu presente e obscureça o seu futuro.

segunda-feira, 11 de março de 2019

Como superar o fim de um relacionamento




Términos nunca são agradáveis e mesmo que o tenha desejado, sempre fica uma ponta de frustração, arrependimento, culpa, dor e confusão.

Quando entramos num relacionamento não pensamos em terminar, não é mesmo? Pelo contrário, se for bom, queremos que dure o tanto quanto for possível. Às vezes a pessoa que está ao nosso lado tem tanta afinidade conosco, que queremos constituir uma família, filhos. Fazemos planos para morar juntos, viajar juntos, envelhecer. É natural, digo mais, é sobrevivência. A espécie humana depende disso.


Porém o que não nos damos conta é que nesse caminhar ao lado de outra pessoa, muitas coisas podem acontecer. A vida é uma transformação constante, basta olhar em volta e perceber que tudo muda. Nós, como seres humanos, também mudamos. Nossos gostos, afinidades, desejos, sonhos também mudam. E em alguns momentos essas mudanças vão de encontro com o meu parceiro (a). De repente, nos tornamos muito diferentes de quando nos conhecemos, e enquanto para alguns casais as mudanças individuais apimentam e fazem o amor crescer, para outros, é o início do afastamento e do fim.

A vida é muito dinâmica, trazendo surpresas o tempo todo. Entre elas, pode trazer um amor do passado de volta, e você não querer mais continuar com seu parceiro (a) atual. Ou então pode ser que você conheça um novo amor, mesmo estando num relacionamento. Pode descobrir que seu parceiro (a) o está traindo, e como isso fere seus valores, é impossível continuar na relação. Ou então, você pode receber uma promoção do trabalho que te leva a morar em outro continente, e a relação acaba, porque ambos entendem que não dá para se relacionar à distância.

Muitas coisas podem levar ao fim de um relacionamento. A questão aqui é, e agora? Como fico?

Uma coisa é certa: não importa quem quis terminar, sentimentos de desconforto, geralmente deixa uma lembrança amarga em nós. E superar essa fase é imprescindível para que você não se feche para novos relacionamentos, e consiga viver uma vida feliz, agora ao lado de outra pessoa.

Raiva, tristeza, frustração, dor, culpa. Sentimentos que são desagradáveis e que fugimos o tempo todo para não sentir. Não nos ensinaram como lidar com as emoções, nem mesmo o que fazem quando sentimentos desconfortantes surgem em nosso peito. Mas isso não significa que eles não vão aparecer. Você pode até tentar jogá-los para debaixo do tapete com comportamentos “analgésicos”, anestesiando seu corpo com entorpecentes, comida, ou até um novo romance. Mas essa ferida vai permanecer aí dentro, e em algum momento, não tem jeito, ela vai doer.

Existem alguns estudos que mostram que áreas do cérebro responsável pela informação de dor física é ativado quando passamos por dor emocional. Porém, neste caso, não adianta ir até a farmácia buscar um analgésico, porque aqui o remédio é outro e é natural: Luto. O luto é extremamente importante para que seu cérebro e consequentemente sua saúde emocional, passe pelo processo de término de forma que não deixe danos.

Sempre que passamos por qualquer situação que remeta a término de ciclo: rupturas de relacionamento, perda de ente querido, perda de um emprego, mudança de casa, etc; precisamos dar um tempo para nós mesmos para que toda a química do nosso cérebro e nossa saúde emocional se recupere. E para isso acontecer, as fases do luto são importantes. Cada fase tem um tempo único para cada pessoa, dependendo da situação.

Quando você rompe um relacionamento a primeira coisa que vem à sua mente é Negação. A mente tenta encontrar uma forma de negar a situação, para que tudo continue como está e a dor não seja sentida. Nossa mente não gosta de mudanças. A negação surge de várias formas: “Não, ele não está me traindo”; “Ela está confusa, logo cai na real e descobre que sou seu amor”; “Foi só uma briga, logo tá tudo bem”. E por aí vai. Além de negar a situação, a negação serve para negar a existência de uma dor.

Depois que essa fase passa, ou ameniza, vem a fase da Raiva. Aqui você já entendeu que não tem volta e as frustrações começam a surgir. Tudo aquilo que foi guardado, que não foi dito, exposto, parece vir à tona agora. Você explode e lembra de tudo de “ruim” que tinha na relação. A raiva também é uma forma de esconder a dor. É comum as pessoas ficarem presas na raiva, não permitindo que a dor seja acessada, e pior: essa raiva pode ser direcionada para outras pessoas, como por exemplo, seu novo relacionamento.

A Barganha surge como terceira fase do luto, mostrando que a dor já está aí. E você começa a ver o que fez de errado, ou seja, procura culpados para a situação. Enquanto que, na fase anterior o culpado normalmente é o outro, aqui, essa culpa é direcionado à si mesmo. Nessa fase você pensa que “poderia ter feito assim ou assado” e começa a negociar consigo “se eu mudar, se eu fizer assim, tudo será diferente”. Aqui é uma fase perigosa, principalmente se você está em um relacionamento abusivo, pois a tendência de permanecer nele é grande.

A fase mais longa é a Depressão ou Tristeza pois é caracterizada por uma dor intensa. Além disso, nada mais pode ser feito aqui, e a vontade de se isolar é comum. Tudo parece sem graça. É outra fase complicada e que muitas pessoas não conseguem passar. Quando se está nessa fase, é comum lotar os consultórios médicos atrás de uma pílula que alivie a dor. Em alguns casos até pode ser benéfico, mas seria muito interessante buscar apoio de um terapeuta para que você aprenda a lidar com a dor ao invés de tentar anestesiá-la.

Por fim, a Aceitação é a última fase do luto. Aqui a pessoa tem uma visão mais realista do término. Sem culpados, apenas assumindo sua responsabilidade. A partir desse momento, seu cérebro e sua saúde emocional está restabelecida e um novo movimento pode iniciar. Você tem esperanças
e a dor dá lugar a serenidade.

É comum durante o luto, você viver mais de uma fase ao mesmo tempo, ou ter a sensação de retornar a alguma fase. O que importa aqui é que você permita viver a DOR. E esse é o ponto. Todas as fases do luto são mecanismos de sua mente para que você consiga, aos poucos, lidar com a dor. Entender o que passou, curar as feridas internas, crescer com tudo isso, e voltar a viver.

Portanto, quando interrompemos o luto, por qualquer motivo, não permitimos que nossa mente termine internamente o relacionamento. Lá fora, há anos que você não vê mais o ex, mas dentro de você parece que ele (a) tem morada eterna. Se isso acontece com você, perceba em qual fase você está? Raiva, Tristeza, Negação? Deixe que esses sentimentos do passado venham à tona. Permita-se viver alguns dias plenamente essa dor. Agora mais consciente, sabendo que ela tem fim. Viver a dor significa: sentir a dor. Nada de “analgésicos”.

Quando seguimos para um novo relacionamento e de repente começamos a perceber que as mesmas situações acontecem, ou, que, de alguma forma, você atrai pessoas semelhantes ao ex, isso pode ser um sinal da vida, dizendo que algo ainda não foi concluído dentro de você. E que até isso finalizar, tudo se repetirá, porque não se trata exatamente da pessoa em si, mas da experiência e do que foi aprendido com ela.

Para ajudar a passar pelo luto é importante ter em mente que muitas relações terminam, mesmo que não haja um culpado. Outras vezes uma relação termina, porque existem emaranhados sistêmicos na família de origem. Aqui não cabe procurar culpados, apenas reconhecer que a relação acabou. Reconhecer que um dia sonharam juntos e que a dor sentida agora advém da frustração desses sonhos. Sem esse reconhecimento, ficam atados um ao outro.

Quando existem filhos na relação, não deve deixar que eles se intrometam na relação. Nem deve ser incentivado que tomem partido, ou deem qualquer sugestão, pois caso contrário, eles ficarão perdidos, e isso gera uma grande desordem sistêmica. Ou seja, nesse sistema familiar, além do casal, os filhos estarão atados numa separação dolorosa, prejudicando a relação parental (os filhos com os pais).

“Quando um relacionamento se desfaz é uma dor muito profunda. Quando nos expomos a essa dor e permitimos que ela penetre em nosso coração, em nosso corpo e em nossa alma em toda a sua amargura e intensidade, então essa dor é, via de regra, breve, embora pareça interminável. Sem dúvida, depois que passamos por ela, a separação foi superada.” Bert Hellinger

Texto com autoria de Aline Charane Messina
Baseado nas obras de Bert Hellinger
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