quarta-feira, 14 de maio de 2014

As três Consciências dentro das Constelações Familiares

     Neste texto vamos aprofundar um pouco sobre as Consciências, tão abordadas nas Constelações Familiares. Assim, é possível entender em que nível de consciência pode estar um sintoma, um tema.
     Bert Hellinger aponta três campos espirituais de consciência: Consciência Pessoal, Consciência de Grupo e Consciência Universal/Espiritual. Cada qual com seu alcance, funcionamento e ordens. Todas as consciências se completam na consciência maior, a Universal, do amor do espírito*.
     Nestes campos espirituais de consciência, elas servem a três condições ou necessidades preestabelecidas para os relacionamentos humanos, que dão força ou fraqueza à alma. As Ordens do Amor se referem ao vínculo, com a força do pertencimento, ao equilíbrio, com a força da compensação, e a ordem, com a força da ordem de chegada e o lugar de cada um no sistema. Estas condições se complementam atuando juntas e são experimentadas como nossa consciência.
     Cada uma destas condições tenta impor seus objetivos através de um sentimento de “culpa” e “inocência”, em conformidade com o fim e a necessidade a que servem. No vínculo, a culpa é experimentada como exclusão e distância, e a inocência como conforto e proximidade. No equilíbrio entre o dar e tomar das relações, a culpa é sentida como obrigação e a inocência como liberdade ou reivindicação. Na ordem, a culpa é vivida como transgressão e medo de punição e a inocência como retidão e lealdade.
     Assim, “culpa e inocência” são dois lados da mesma moeda que se encontram a serviço das Ordens do Amor, em suas diferentes instâncias de consciências: pessoal, coletiva e universal. Estas condições acompanham o movimento contínuo no amor do espírito.
     O padrão da consciência é determinado pelo grupo e pelas pessoas com quem nos relacionamos. Pertencemos a diferentes grupos, desde o familiar, profissional ou de estudos, religiosos, sociais. Desenvolvemos um padrão de consciência diferenciado com cada grupo e com cada pessoa do grupo. Portanto, desenvolvemos consciências distintas com as diferentes pessoas.
     A Consciência Pessoal é regida pela dinâmica “culpa e inocência” permeando conceitos de moralidade, baseado no “certo e errado”, a qual está diretamente ligada a valores familiares e à educação recebida.
     Na Consciência do grupo, a consciência deixa de ser pessoal e passa a estar ligada ao grupo. Aqui se faz presente um poder de atuação inconsciente, o poder da alma do grupo. Este poder cobra qualquer desrespeito para com o grupo, em relação às forças de vínculo, compensação e ordem. O poder da Consciência do grupo é maior do que a Pessoal, não observando consequências individuais ou questões de justiça.
     Nesta Consciência, o princípio da ordem é determinante e os membros que chegam por último aos sistemas são escolhidos pelos emaranhados sistêmicos. Assim, o membro familiar posterior que vive agora responde pelos membros anteriores, que já morreram. Na justiça da Consciência do grupo, quem veio depois, está a serviço das forças do vínculo e pertencimento, independente da vontade e compreensão.
     Hellinger observou que esta lealdade é regida pela hierarquia e é mais forte em pessoas que ocupam posição inferior nos grupos, como os filhos em uma família e funcionários em um nível inferior de uma empresa.
     Ele também estrutura sua filosofia sobre a aceitação incondicional do outro e das coisas tal como são, se baseando no amor que tudo une, sem preconceitos, julgamentos ou controle. Para o amor do espírito não existe mais ou menos pertencimento, nenhum direito maior ou menor de pertencer, para ele, nada vai mais além do existir presente. O amor do espírito se mantém em movimento criador, presente em tudo. Percebemos nossa sintonia com este amor quando entramos em contato com a Consciência Espiritual.
     
O movimento do espírito é diferente do movimento da Consciência Pessoal, na qual culpa e inocência se encontram presentes. Nossa sintonia com a Consciência Espiritual é reconhecida quando nos encontramos na calma, sentida quando estamos em paz. Ela gera leveza.

*Clique aqui para ver texto onde explica sobre a terminologia “amor do espírito”.


Conceito básico das Constelações Familiares

     Criador das Constelações Familiares, Bert Hellinger nasceu na Alemanha em 1925, ex-seminarista católico, estudou filosofia, teologia e pedagogia. Conhecedor de vários modelos de terapia, incluindo psicoterapia de grupo, psicanálise, hipnoterapia, terapia primal, análise transacional e PNL. Desenvolveu então, a abordagem das Constelações Familiares e a concepção das Ordens do Amor ou Leis dos Relacionamentos Humanos.
      O termo original desta abordagem é “Familienaufstellung”, cujo sentido literal seria “colocar a família na posição”. Este termo traz a ideia inicial que era posicionar as pessoas em lugares específicos nos espaços, caracterizando as intervenções iniciais que datam da década de 80. A Constelação Familiar consiste no posicionamento físico/emocional de representantes dos elementos importantes do tema do cliente. Com a ajuda de um grupo terapêutico ou com bonecos, objetos ou âncoras de solo, mostram através dos movimentos, as conexões estabelecidas inconscientemente entre o tema (sintoma) e sua implicação sistêmica no grupo.
     Neste trabalho o movimento de harmonização das conexões estabelecidas nas relações, quaisquer que sejam, tem como meta o amor. Aqui, julgamentos e diferenciações entre “o bem ou o mal”, assim como ideias de “certo ou errado”, “inclusão ou rejeição”, “melhor ou pior”, ou ainda a diferença entre “vida e morte”, deixaram de ter separação. A separação não existe quando se apropria de uma consciência maior, em uma dimensão espiritual. Esta consciência maior é uma consciência criativa que cria tudo e está sempre em movimento, chamada pelo autor de Consciência Universal ou Consciência Espiritual.

    Para Bert Hellinger, este amor, que ele denomina de amor do espírito, é uma atitude. Aceita tudo tal como é, simplesmente porque existe. Esse amor desconhece o julgamento que decide se algo deve existir ou não, pois só o fato de que algo existe significa que foi pensado por um espírito criador, tal como é, e assim é amado.

Adaptado de Marusa Helena das Graças Gonçalves