
Não podemos alterar a realidade
em que nascemos, desconhecemos a oportunidade de escolher a nossa atitude para
com eles. Essa atitude é fundamental para o nosso sucesso ou fracasso na vida.
Não podemos trocar ou mudar nossos pais, viemos depois e invertemos a ordem
quando queremos que se harmonizem às nossas ideias. Eles nos corrigiram por
pouco tempo, segundo melhor lhes parecia e podem ter realizado seu trabalho com
habilidade ou não, mas o que fizeram foi muito, foi tudo, nos geraram e nos
conceberam a vida, o nosso maior presente, podemos existir.
Por essa gratidão, uma relação
saudável com nossos pais é base de bons relacionamentos afetivos e de sucesso
na trajetória da vida. Nossos pais deram o suficiente, deram a vida e com a
vida, a possibilidade de “mais uma vez” escolher o que fazer com a vida. Nossos
pais nos dão a força da vida e tendo a vida, o mais é a nossa responsabilidade
de construirmos. Essa construção pode ser trilhada por dois caminhos: o caminho
do amor ou da dor.
No caminho do amor, encontra-se a
aceitação de tudo como é na comunhão com alma, uma comunhão com o todo maior,
aceitando que somos uma parte deste todo maior. No caminho da dor, tencionamos
o movimento de viver. Tencionamos porque colocamos intenção em nossas atitudes.
Temos a ilusão que as nossas ideias e nossos desejos que nos conduzem, vivemos
estacionados em nosso Self (ego), ego-centrados e separados da comunhão com o
todo. Com essa ilusão entramos na tensão e permanecemos na luta “por aquilo que
pensamos querer”. Permanecemos nas nossas ideias de controle e assim,
continuamos nos detendo por tempo, às vezes por uma vida inteira.
No caminho do amor encontra-se o
nosso pertencimento na comunhão com a lei básica: “honra teu pai e tua mãe”. A
honra é uma atitude do coração, não se refere a um ato ou comportamento, e sim
à maneira como escolhemos nos relacionar com nossos pais no nosso coração. A escolha
de sermos os filhos que devemos ser frente aos nossos pais, sermos sempre a
criança frente a eles. A criança que os ama incondicionalmente e tudo aceita do
jeito que é.
Nenhuma criança até certa idade
tem qualquer olhar avaliativo sobre seus pais, ou acha que seus pais deveriam
ser diferentes do que são. Essas crianças não tem o olhar contaminado por
críticas sobre seus pais, portanto, quando qualquer olhar aos pais for
acompanhado de alguma dúvida ou avaliação, em relação a amá-los do jeito que
são, já não é mais possível, o amor se perdeu do caminho certo. O amor
incondicional aos pais foi desviado, saí do meu lugar.
Enquanto eu permanecer no meu
lugar de criança, frente aos meus pais, eles serão os grandes e eu tenho o meu
lugar, eu pertenço. Eu tenho raízes, fico forte e completo, tenho futuro. Quanto
mais nos tornamos crianças frente aos nossos pais, mais crescemos e mais filhos
dos nossos pais somos. Nós crescemos na medida em que renunciamos ao que
sentimos falta neles, permanecemos respeitando-os e honrando-os.
Na medida que reconhecemos que
eles não são a nossa ilusão, podemos reconhecer as suas crianças internas,
também podemos compreender que eles receberam o que foi possível dos seus pais. Podemos compreender que eles
também têm faltas e passamos a amá-los nos pais deles. Quando não reconhecemos
as nossas dificuldades e respeitamos as suas dificuldades, nós crescemos e, só
assim, nos tornamos grandes em nossa pequenez frente a eles.
Sem tomar tudo de nossos pais,
parte de mim fica em falta. Quando criticamos algo em nossos pais, estamos
criticando a nós mesmos. Quando rejeitamos algo em nossos pais, estamos
rejeitando algo em nós mesmos. Ficamos sem uma parte de nós que, rejeitada ,
nos deixa na falta e assim, saímos da completude. Com eles grandes posso
crescer e me sentir apoiado para ficar grande, posso tomar deles a força da
vida, ser abençoado e ir adiante.
Adaptado de Marusa Gonçalves - Livro Constelações Familiares com Bonecos